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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Educação sem remédio
SÃO PAULO - Os indicadores positivos estão na moda no Brasil, mas
o país sempre insiste em nos lembrar que o buraco é mais embaixo.
Imagine que você está lendo a seguinte recomendação médica: "Tomar com o estômago vazio 1 hora
antes da refeição ou 2-3 horas após
a refeição". E que deve responder
depois a seguinte pergunta: "Se você fosse almoçar às 12h e quisesse
tomar a medicação antes do almoço, a que horas deveria tomá-la?".
De cada quatro pessoas, uma é
incapaz de responder corretamente
a uma questão como essa. É o que
conclui a pesquisa do neurologista
Ricardo Nitrini, após entrevistar 312
adultos alfabetizados (com graus
diferentes de instrução formal) que
acompanhavam pacientes no Hospital das Clínicas, em São Paulo.
Como mostrou reportagem da
Folha no domingo, entre as pessoas com até sete anos de estudos,
quase 60% não conseguiram entender o que liam. Foram, em tese,
alfabetizados, mas não compreendem o significado do que está escrito. São "analfabetos funcionais".
O IBGE contabilizou, em 2008,
21% de analfabetos funcionais no
país. Seriam aqueles com menos de
quatro anos de escolaridade. Vários estudos, porém, apontam que
o índice de analfabetismo funcional é, na realidade, bem mais alto.
Quantos brasileiros entram e saem
do ensino médio (o antigo colegial)
sem alcançar o estágio da compreensão elementar de um texto?
O crítico literário Antonio Candido escreveu em 1970 (lá se vão 40
anos!) um ensaio muito importante: "Literatura e Subdesenvolvimento". Ali, equacionava o drama
do analfabetismo e dizia que, numa sociedade como a nossa, a alfabetização não iria criar na mesma
proporção leitores de literatura,
mas, antes, "atirar os alfabetizados, junto com os analfabetos, diretamente da fase folclórica para
essa espécie de folclore urbano que
é a cultura massificada". São linhas
incrivelmente atuais. De lá para cá,
será que o problema se agravou ou
estamos melhorando?
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