São Paulo, segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Próximo Texto | Índice

A nota e o déficit


Moodys melhora a nota do país; mas saldo em conta corrente explicita necessidade de reforçar a competitividade


COMPLETOU-SE um mês desde a eclosão da onda de turbulência no mercado financeiro global. A data coincidiu com o anúncio de uma importante agência internacional de classificação de risco de crédito, a Moodys, que elevou a nota que atribui a títulos de dívida do governo brasileiro. Esses papéis ficaram a apenas um degrau da categoria "grau de investimento", composta pelos países considerados bons pagadores.
Poucos anos atrás, uma melhora de classificação de risco do país num contexto de grande incerteza no mundo das finanças internacionais seria impensável. É mais uma demonstração da importância do fortalecimento das contas externas e do acúmulo de reservas em moeda estrangeira -fatores, aliás, invocados explicitamente pela Moodys para justificar sua decisão.
O conforto propiciado pela situação mais robusta do balanço de pagamentos brasileiro não deveria, no entanto, dar ensejo a uma atitude passiva e acomodatícia das nossas autoridades econômicas. Na ausência de ações estratégicas de fôlego, o superávit nas contas externas tende a reduzir-se progressivamente, pelo simples efeito do crescimento da economia.
Essa tendência já transpareceu nos mais recentes números relativos ao desempenho do setor externo brasileiro, divulgados pelo Banco Central.
O aquecimento da atividade econômica, em especial num contexto em que o real vem se valorizando de maneira expressiva e progressiva, se traduz numa aceleração muito forte das importações, bem como do déficit na conta de turismo internacional e na remessa de lucros e dividendos. O resultado é a tendência de redução do saldo positivo nas transações correntes com o exterior. Essa conta apresentou déficit de US$ 717 milhões no mês de julho.
Há um longo caminho a percorrer até que esse saldo se torne sistematicamente negativo a ponto de fragilizar a posição das reservas internacionais, sobretudo se os impactos da turbulência financeira na economia real se revelarem relativamente limitados. Isso significa que haveria ainda algum tempo para a implementação de iniciativas capazes de reforçar a competitividade da economia brasileira.
Várias são as opções possíveis, como mudanças na gestão das contas públicas, para abrir margem a um aumento sustentado dos investimentos públicos (notadamente em áreas como infra-estrutura, inovação tecnológica, educação e saúde). Também é urgente reduzir a carga tributária e acelerar a transição para taxas de juros em nível "civilizado". No momento, a inércia parece não cobrar preço. No futuro, ele poderá revelar-se, mais uma vez, muito elevado.

Próximo Texto: Editoriais: Sem pressa

Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.