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A hora do Chacrinha
Cenas no Senado Federal ultrapassam o acintoso para equipararem-se ao deboche genial do antigo apresentador de TV
A COMÉDIA é de tal ordem
que talvez a única coisa
a ser levada a sério no
Senado Federal seja a
ideia de extinguir-se, de uma vez
por todas, o seu Conselho de Ética. Se a palavra deixou de constar
do dicionário da Casa, nada mais
lógico que lideranças partidárias
proponham o desaparecimento
de um colegiado que, afinal, já
não tem objeto pelo qual zelar.
O exame do assunto, que ocorreria ontem, terminou sendo
postergado. Não faz mal. Que se
permita, neste espaço, uma modesta sugestão no sentido de
aperfeiçoar a iniciativa.
É que o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) planeja, enquanto
isso, construir uma praça de alimentação no Senado. Estão previstos dois restaurantes e uma
lanchonete. Como não se menciona a existência de pizzarias,
quem sabe os espaços do Conselho de Ética poderiam destinar-se a tal especialidade.
O senador argumenta que a
abertura do novo espaço de comilança se justifica até por razões de saúde pública, tal a precariedade das condições de higiene dos atuais restaurantes do
Senado. Haverá de concordar
com a tese a senadora petista
Ideli Salvatti, que em outro contexto fez um desabafo acerca dos
sacrifícios de seu cargo: sente-se
merecedora de um "adicional de
insalubridade e periculosidade"
em seu salário.
A observação não é lisonjeira
para seus colegas, ainda que na
mesma ocasião a senadora tenha
salvado os do próprio partido:
"Tenho orgulho da ética petista",
declarou triunfalmente.
Foi, sem dúvida, para se fazer
passar como último representante da "ética petista" que o senador Eduardo Suplicy, por sua
vez, encenou o espetáculo ridículo e infantilóide do cartão vermelho contra José Sarney, numa
sessão em que o Senado Federal
pareceu descer ao nível dos antigos programas do Chacrinha.
Suplicy, que silenciara enquanto algumas figuras isoladas,
como Pedro Simon (PMDB-RS)
e Cristovam Buarque (PDT-DF),
reivindicavam o afastamento do
presidente do Senado, resolveu
jogar para a opinião pública, como sempre foi a sua especialidade. A esta altura da desmoralização geral, e depois de se saber
que sua namorada viajou para
Paris com passagens oficiais, tornou-se apenas motivo de chacota, desbancando seu até aqui indesbancável e irrevogável líder
de bancada, Aloizio Mercadante.
O mesmo Heráclito Fortes da
praça de alimentação encarregou-se de desmascarar a farsa,
dizendo que Suplicy deveria
mostrar o cartão vermelho, isto
sim, ao presidente Lula, que
coordenou a salvação de Sarney
no Senado.
Atônito, enfurecido e mais vermelho que o próprio cartão, o senador petista não teve resposta.
Quem sabe o ex-presidente e senador Fernando Collor, hoje especializado em lições de moral,
pudesse repetir o que disse a Pedro Simon há algum tempo, ordenando que Suplicy engolisse e
digerisse o tal cartão -enquanto,
é claro, não chega a esperada
inauguração dos novos restaurantes da Casa.
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