São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2004

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INCERTEZA NOS EUA

Embora a economia mundial venha atravessando um período marcado pela aceleração do crescimento e, ainda mais, do comércio internacional, continuam em cena alguns desequilíbrios preocupantes. Entre eles se destaca o déficit das contas externas dos EUA. No segundo trimestre deste ano, o saldo negativo em transações correntes da economia americana chegou a um patamar inédito -US$ 166,2 bilhões, o equivalente a 5,7% do PIB.
A moeda americana já perdeu mais de 40% de seu valor ante o euro desde 2002, mas esse movimento foi insuficiente para estancar a tendência de aumento do déficit externo. Por um lado, isso ocorre porque (com a intenção de preservar as exportações para os EUA) os bancos centrais de países asiáticos realizam fortes compras de dólares, impedindo uma valorização de suas moedas. Por outro lado, grandes empresas americanas deslocaram parte de suas estruturas produtivas para a Ásia e exportam para os EUA, o que dificulta a redução do déficit comercial.
É uma situação delicada, mais ainda pelo fato de o déficit nas contas públicas dos EUA estar se agravando, o que pode constituir um motivo adicional de pressão sobre o dólar. Parece provável que o próximo governo dos EUA tenha de sinalizar para os mercados que os desequilíbrios externo e fiscal não continuarão a se aprofundar. Uma desaceleração moderada da demanda interna, no início de 2005, parece já "encomendada", com a diluição dos impactos da renúncia fiscal do governo Bush.
O Fed, banco central americano, elevou a taxa de juros básica em 0,25 ponto percentual, ou seja, para 1,75% ao ano, na semana passada. No entanto a taxa de juros dos títulos de dez anos do Tesouro americano caíram para 3,95%. A curto prazo, esse cenário de elevação gradual dos juros e expansão da atividade econômica nos EUA favorece os países emergentes, como o Brasil, pois deverá persistir a liquidez internacional. A médio prazo, no entanto, os desequilíbrios dos EUA continuarão a representar uma ameaça global.


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