São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

CLAUDIO VAZ

Riscos, desafios e oportunidades

Viver circunstâncias nunca antes vividas normalmente acentua a propensão a priorizar os riscos que apresentam, em vez das oportunidades que oferecem. Hoje tomam posse as novas diretorias do Centro e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, que, pela primeira vez, seus eleitores decidiram separar. Isso faz com que alguns vejam como possível um cenário em que essas entidades priorizem o embate entre si, fragilizando a representação da indústria paulista e as afastando de seus objetivos e de sua base de representação.
Assumo o compromisso de que o Ciesp não seguirá por esse caminho, e estou seguro que igualmente a Fiesp não o fará. Ao contrário, a nova diretoria do Ciesp assumirá essa situação como um desafio, ampliando sua capacidade de representação, formulação e ação até o limite do seu potencial, disposta e disponível para um trabalho convergente e coordenado com a Fiesp, focado na superação dos obstáculos ao nosso desenvolvimento sustentado, na ampliação do mercado interno, no contínuo aumento das exportações, do resultado das empresas e da interação destas com seus trabalhadores, outros setores econômicos e representações organizadas da sociedade civil.


Crescimento é processo turbulento, de superação constante de restrições, que testa os limites e que opera sempre sob tensão


Nosso compromisso é enfrentar o risco da divisão, assumi-lo como um desafio, transformá-lo em oportunidade para ampliar, de modo convergente e coordenado, nossa representação, formulação e ação, obtendo os resultados esperados.
O país está iniciando novamente um ciclo de crescimento, e desta vez de melhor qualidade que os anteriores mais próximos, porque baseado no crescimento contínuo e significativo do saldo de nossa balança comercial, o que reduz nossa vulnerabilidade externa e dependência de capitais especulativos, cuja fuga ou ausência abortou os anteriores. A contribuição já observada do consumo de bens duráveis, algum retorno dos investimentos privados e as medidas que o governo promete para ainda mais incentivá-los, além das perspectivas por uma retomada dos investimentos públicos e do emprego, sugerem que proximamente também os bens não-duráveis possam contribuir para o crescimento do mercado interno. Isso exige uma ação firme e imediata para que essa oportunidade não se perca.
A iniciativa do governo federal de trazer novamente para o primeiro plano os temas da política industrial, a criação do CNDI (Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial), medidas iniciais de desoneração do investimento e ações efetivas para a ampliação de nossos mercados externos são bons indicadores, mas ainda muito insuficientes para que crescimento e estabilidade sejam as duas faces de uma mesma moeda.
Ninguém há de querer a perda da estabilidade, sem a qual nunca haverá verdadeiro desenvolvimento, entendido como crescimento com justiça social. Mas economia é meio para aumentar e distribuir padrão e qualidade de vida, com aumento de emprego, renda e redução da exclusão social, e não fim para obter um bonito balanço e ganhar medalha de bom comportamento.
Nossas propostas e ações estarão centradas em crescer sem perder a estabilidade, em vez de garantir uma estabilidade, sempre indefinida e fugaz, para depois crescer. Crescimento é processo turbulento, de superação constante de restrições, que testa os limites e que opera sempre sob tensão. Mas é uma turbulência a caminho do bem. Calma é a recessão.
Por razões óbvias, precisamos retomar sem demora a implementação da reforma tributária, iniciar a trabalhista e desonerar integralmente os investimentos produtivos. Considerar estrategicamente o capital nacional, que disputa mercados cada vez mais abertos com concorrentes que não pagam impostos para investir nem arcam com o peso dos nossos juros, na formulação de políticas públicas, pois não é possível um país-continente dele prescindir. Atacar de frente a concorrência desleal, que extingue ou empurra para a informalidade um número crescente de atividades; adequar os prazos de pagamento de impostos e contribuições aos prazos normais de venda de cada setor; e modernizar o sistema diferenciado a que têm direito as micro e pequenas empresas.
Também tornaremos o Ciesp um ambiente para a ampliação dos negócios e a melhoria dos resultados das empresas. Seja apoiando a inserção ou ampliando as oportunidades nas exportações, através de consórcios, missões e rodadas de negócio, apoiando ou realizando feiras e exposições regionais, articulando e apoiando arranjos produtivos locais, implantando um catálogo eletrônico de produtos e serviços de seus associados ou permitindo negócios entre eles e com terceiros. Ampliaremos nossas cooperativas de crédito, com três já em funcionamento, a melhor e mais barata fonte de crédito para a micro e a pequena empresa.
Igualmente estaremos presentes e em articulação constante com os poderes públicos, nos municípios em que estamos representados (atualmente 161, com o objetivo de atingir 300 nesta gestão), nos governos estadual e federal, Executivo e Legislativo.
Estamos absolutamente conscientes de que capacidade de formular e propor é essencial, mas também de que a verdadeira ação que viabiliza e obtém resultados se dá no campo político, e dele nunca estaremos ausentes.

Claudio Vaz, 55, industrial e economista, é o novo presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).


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