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Sangria na saúde
Escândalos de corrupção até são apurados com rapidez, mas lentidão da Justiça favorece a sensação de impunidade
É UM aspecto sórdido da
corrupção brasileira que
parte expressiva dos desmandos dos quais se teve
notícia nos últimos meses tenha
ocorrido na área da saúde. De par
com a operação fraudulenta na
venda de ambulâncias orquestrada pela máfia dos "sanguessugas", episódio desencadeador da
crise do dossiê, surgem agora novos desdobramentos da chamada Operação Vampiro.
Deflagrada em maio de 2004, a
ação da Polícia Federal resultou
na prisão de 17 empresários e
servidores acusados de fraudar
licitações para a compra de medicamentos hemoderivados no
âmbito do Ministério da Saúde.
As empresas combinavam preços, apresentavam pequenas diferenças nas cotações e dividiam
lotes nas concorrências.
Anteontem, o Ministério Público Federal apresentou denúncia à Justiça contra 13 supostos
envolvidos. Entre eles figuram o
ex-ministro da Saúde Humberto
Costa, titular entre 2003 e 2005,
e o ex-tesoureiro do PT Delúbio
Soares. Ambos estariam à frente
dos dois grandes grupos responsáveis pelas fraudes.
Acusado de formação de quadrilha e corrupção passiva, Costa
é suspeito de ter conhecimento
prévio do esquema e ter dado
respaldo a servidores envolvidos. Já Delúbio, indiciado sob a
acusação de formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de
dinheiro, seria um dos destinatários dos recursos desviados.
Como nos escândalos de corrupção revelados recentemente,
há um enredo intricado e um volume expressivo de indícios reunidos pela policia e pelo Ministério Público. Como nos demais
episódios, porém, as perspectivas de presteza na condução do
processo, na elucidação do caso e
na distribuição das penas aos
responsáveis são exíguas.
Em franco contraste com a
atuação da Procuradoria, cuja
agilidade representa inegável
avanço institucional, a Justiça
tem sido morosa na condução de
processos importantes para
combater a impunidade na política. Para citar um caso rumoroso, o relatório sobre o mensalão
apresentado em abril ao Supremo Tribunal Federal pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, não tem
horizonte visível de conclusão.
Agilidade não se confunde com
ameaça ao amplo direito de defesa -próprio de qualquer Estado
democrático- e risco ao cumprimento do rito processual. Significa apenas aperfeiçoar os mecanismos já disponíveis para impedir que demora e ineficiência
brindem com impunidade os sucessivos episódios criminosos
revelados na política federal.
A PF, ainda que com eventuais
exageros pirotécnicos, e o Ministério Público têm obtido inegáveis avanços em eficiência. Respeitados os limites impostos pelo Estado de Direito, deveriam
servir de estímulo ao Judiciário
para que acelere a produção dos
veredictos. É a saúde institucional do país que está sob risco.
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