São Paulo, domingo, 27 de setembro de 2009 |
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Editoriais editoriais@uol.com.br Audácias da esperança
A O NUNCIAR uma "nova era de engajamento" dos Estados Unidos no cenário global, o discurso de estreia de Barack Obama na Assembleia Geral das Nações Unidas formalizou uma nítida mudança de perspectivas diante da inflexibilidade que caracterizou a Era Bush. A virada na política externa de Washington não se resume a lances de retórica, ainda que seja este um campo que Barack Obama domina com particular facilidade. Para citar um exemplo comezinho, mas sem dúvida expressivo, observe-se que as desconfianças do governo Bush com relação à ONU levaram os Estados Unidos ao ponto de nem mesmo honrar seus compromissos com a manutenção financeira da entidade. Saldou-se, com Obama, a dívida material -e o passivo político, por sua vez, parece aos poucos reequilibrar-se também. Por mais necessário que seja afastar expectativas irrealistas quanto ao papel das Nações Unidas, o governo Barack Obama sem dúvida está correto em investir nas capacidades de influência e de negociação dos Estados Unidos sobre a entidade, em vez de contar exclusivamente com as primazias de sua posição como superpotência militar. Outro sinal importante no rumo das iniciativas multilaterais foi a presença pessoal de Obama na reunião do Conselho de Segurança da ONU, onde nesta quinta-feira aprovou-se por unanimidade uma resolução histórica contra a proliferação das armas nucleares. O clima para esse compromisso foi sem dúvida facilitado por um gesto concreto de distensão com a Rússia: o recuo americano no projeto de instalar mísseis no Leste Europeu. Não são poucos, todavia, os obstáculos à relativa abertura proposta pela gestão democrata na política externa. Dificilmente os Estados Unidos poderão contribuir para a definição de metas específicas na questão do aquecimento global, objeto de conferência a ser realizada em Copenhague (Dinamarca) no próximo mês de dezembro. Obama depende, para qualquer proposta concreta nesse sentido, do beneplácito do Congresso. Como ocorre com outras iniciativas no plano interno -vale citar a polêmica, que polariza as forças políticas do país, em torno de seu projeto de assistência à saúde-, tudo depende da capacidade de Obama para manter o elã renovador que acompanhou sua vitória eleitoral. Esvaiu-se nitidamente, contudo, o capital político do novo presidente. Desde o início do ano, subiram de 20% para 40% os seus índices de reprovação. Dos dilemas no Afeganistão ao encaminhamento da recuperação econômica, o cerco da realidade concreta vai estreitando a margem de atuação do presidente americano -e seu desempenho internacional, embora lhe renda dividendos no curto prazo, depende de uma sustentação interna que parece bastante insatisfatória no momento. Próximo Texto: Editoriais: Lobby do caixa dois Índice |
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