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Lobby do caixa dois
DEPOIS de criarem mais um
programa de vantagens
excepcionais para devedores em atraso com a Receita,
os congressistas brasileiros decidiram remover as fronteiras de
sua generosidade fiscal. Um projeto da base aliada ao Palácio do
Planalto destinado a incentivar,
por meio de anistia, a repatriação
de dinheiro enviado ilegalmente
ao exterior deixou para trás quatro anos de merecido limbo e foi
aprovado pela Comissão de Finanças da Câmara.
Pelo texto, de iniciativa do deputado José Mentor (PT-SP), os
responsáveis pela evasão de divisas poderão trazer de volta os recursos ao país sem punição pelo
crime cometido. Será cobrado
apenas um tributo de 10% ou
15%, sem multas ou juros de mora -enquanto os demais contribuintes estão sujeitos a um Imposto de Renda de até 27,5%.
Proposição de objetivo similar
também tramita no Senado.
Os defensores do projeto argumentam que a instabilidade econômica e a alta carga tributária
impulsionaram a sonegação fiscal no passado. A anistia, já adotada em países como Itália e Alemanha, estimularia a regularização de empresas e pessoas físicas. E, atrativo apresentado ao
público com mais ênfase, a medida permitiria o ingresso de até
US$ 150 bilhões na economia.
A cifra grandiloquente, se levada a sério, depõe contra a proposta. O Brasil se debate hoje
com excesso, não falta, de dólares, o que obriga o governo a se
endividar em moeda nacional
para adquirir ao menos parte das
sobras para as reservas do Banco
Central. A hipotética entrada de
tal volume traria ou um aumento
extra da dívida interna ou a derrocada das exportações com a sobrevalorização do real.
Como de hábito no lobby parlamentar, interesses particulares são vendidos como benefícios coletivos. Não há recompensa social que justifique o prêmio
oferecido a práticas como caixa
dois e lavagem de dinheiro.
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