São Paulo, domingo, 27 de outubro de 2002

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Democracia, paciência e competência

Os brasileiros têm a felicidade de poder escolher livremente os seus governantes -legisladores, governadores e presidente da República.
A liberdade é o mais rico patrimônio de um povo. Nem sempre nos damos conta disso. A liberdade é como a saúde: só a valorizamos quando a perdemos.
Apesar do calor da campanha, os presidenciáveis aprenderam que o vitorioso terá de governar para todos. Os eleitores entenderam que, passada a eleição, todos serão irmãos como sempre foram, integrados numa nação que, há 500 anos, pratica a mesma língua, a mesma cultura e o mesmo fervor pela pátria grande.
De amanhã em diante, a contenda terá ficado para trás. Não haverá mais "lulistas" ou "serristas". Serão 175 milhões de brasileiros, todos chamados a ajudar o país com trabalho, dedicação e respeito.
Mas o aprendizado do vencedor não terminará com a sua eleição. Ao contrário. Os problemas e o curso da história serão seus mestres até o fim do mandato. Ele saberá logo que, no regime democrático, governar é tolerar e respeitar os contrários, garantindo-lhes o direito da discórdia e retirando do debate os componentes da síntese.
O mandatário que sai deixa isso como exemplo para o mandatário que entra. Poucos políticos brasileiros foram tão tolerantes quanto o presidente Fernando Henrique Cardoso. Com sua conduta "irritantemente paciente", ele mostrou que o exercício odioso do poder é o caminho mais curto para encurtar um mandato.
Os que caíram pelo caminho lhe deram razão. Os que observaram a sua tolerância, entenderam a importância dessa virtude para garantir a liberdade com que todos nós estamos votando neste domingo como partícipes de uma majestosa festa democrática. Nada disso teria acontecido se o seu mandato tivesse sido marcado pelo fanatismo, pelo revide e pela retaliação.
O Brasil está acima das divergências políticas. O que se espera do vencedor é, em primeiro lugar, o respeito ao vencido. A modéstia é a alma da civilidade.
Em segundo lugar, aguarda-se que o novo governante se dirija a todos os governados, indistintamente, para unir todo o povo brasileiro em torno da difícil tarefa de construir um país melhor. O novo governante terá de converter os ressentidos não mais por meio das mirabolantes promessas da campanha eleitoral, mas pela força do realismo do trabalho que terá de fazer.
Em terceiro lugar, espera-se o reconhecimento ao presidente que sai, não só para agradecer as garantias democráticas que viabilizaram a eleição daquele que entra, mas, sobretudo, pelo seu espírito de responsabilidade ao preparar os elementos que o eleito necessita para finalizar a sua estratégia de administração.
Esse é o dote que o atual presidente deixa à nação. Essa é a herança que o eleito recebe. Isso é o que se espera que ele faça no dia de preparar seu sucessor. Precisamos manter viva a convicção de hoje, ou seja, a de que o Brasil amadureceu.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.

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