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CARLOS HEITOR CONY
Vamos lá, gente boa!
RIO DE JANEIRO - À margem do referendo sobre o comércio das armas,
confesso minha preocupação com a
gente boa deste país. O povo eleito,
bacana, politicamente correto, transparente, saudavelmente pra frente, a
turma que nos guia e ilumina com
seus conselhos e seu comportamento
ético, quebrou a cara com a derrota
do "sim", mas o caso não é para o desespero e o ranger de dentes, que,
aliás, não ficam bem em gente bem e
tão boa.
Que será de nós sem eles? A quem
recorreremos em nossas misérias cotidianas, nos trancos que levamos da
turma do mal, que promove chacinas
como a do Carandiru? Quem nos livrará dos Severinos, quem devolverá
Maluf à prisão e quem terá coragem
de reclamar da voz desafinada do
Roberto Jefferson quando se põe a
cantar músicas napolitanas?
Não podemos ficar perdidos sem a
luminosa bússola do povo eleito, da
gente boa que sempre sabe o que é
certo e o que devemos fazer. Foi um
lamentável acidente de percurso. Sabemos que as forças do mal são numerosas, capazes de tudo. Chupam o
sangue das criancinhas, estupram
freiras, profanam sepulturas, não
cultuam a memória do Vladimir
Herzog, roubam a merenda escolar
das crianças subnutridas e lavam dinheiro roubado nos paraísos fiscais
para se abastecer de armas letais que
garantirão o império do mal até a
consumação dos séculos.
Muita gente tinha dúvida se Lula
era ou não era gente boa. Eu sempre
achei que era e é. Tão gente boa que
votou no "sim", que, no fundo, era
contra ele, principalmente isso, contra ele e seu governo. Confesso que estou acabrunhado com o resultado da
consulta na qual não votei e sobre a
qual não tinha qualquer opinião,
nem contra nem a favor.
Vi nos jornais a foto de uma jovem
muito boa, em lágrimas, chorando a
vitória do mal. Misturando motivos,
ela não entendia como o povo podia
ignorar a corrente do bem que se formou para salvar a nação.
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