|
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Difícil competir
Embora coberto por ingresso de capitais, deficit externo mostra que indústria perde competitividade e requer políticas para desonerá-la
A divulgação dos resultados
das contas externas do país, que
ocorreu na segunda-feira, é um
oportuno lembrete acerca das dificuldades enfrentadas pelas empresas brasileiras para conquistar
novos mercados.
O deficit nas transações correntes atingiu US$ 3,9 bilhões (R$ 6,6
bilhões) em setembro e chegou a
US$ 47,4 bilhões (R$ 80,7 bilhões)
nos últimos 12 meses. Tal cifra
equivale a 2,4% do PIB e representa o pior resultado desde setembro
de 2002. As contas de serviços e
rendas (remessas de lucros, gastos de turismo e pagamentos de
royalties, entre outros itens) ficaram no negativo em US$ 67 bilhões, também nos últimos 12 meses -valor que ultrapassa em
muito o superavit comercial de
US$ 16,7 bilhões do período.
Olhando as contas externas isoladamente, pode-se dizer que a situação não é alarmante, pois o fluxo de entrada de capitais continua
muito forte. Só em setembro houve ingresso de US$ 8,6 bilhões em
investimentos em carteira, em razão da oferta de ações da Petrobrás. Em 12 meses já são US$ 66,7
bilhões só nessa rubrica, dos
quais US$ 39 bilhões em ações.
Considerando ainda a entrada de
US$ 30,9 bilhões em investimentos diretos, fica claro o quadro de
"folga" de recursos, que deve continuar nos próximos meses.
Esse cenário no entanto não
oculta as dificuldades crescentes
para o avanço das vendas da indústria brasileira. Da alta de 36%
nas exportações, nos últimos 12
meses, 23% decorrem exclusivamente de aumento de preços, em
geral no setor de commodities.
Ao mesmo tempo, as vendas de
manufaturados para o exterior
continuam patinando, praticamente sem aumento dos volumes
embarcados desde o inicio do ano.
É um quadro bastante diferente do
encontrado em outros países
emergentes, especialmente asiáticos, que continuam expandindo
exportações.
Outro dado preocupante é que a
indústria tem acelerado nos últimos meses o processo de substituição de componentes fabricados no país por importados -e esse movimento ocorre em número
cada vez maior de cadeias de produção. Isso significa que muitas
empresas não apenas perdem
mercados fora como encontram
dificuldades para expandir seus
negócios no Brasil.
É evidente que o real caro não é
a única razão para a perda de competitividade. E parece óbvio que a
situação cambial desfavorável só
deveria compelir o governo a
atuar com mais vigor em outras
frentes para facilitar a vida das
empresas. Os obstáculos são os de
sempre: impostos altos, muita burocracia, logística problemática e
dificuldade de gerar tecnologia e
conhecimento aplicados à produção em larga escala.
Tudo isso deixa o Brasil em desvantagem competitiva. Mais ainda quando se sabe que a concorrência com empresas de países como a China não é isonômica, pois
elas contam com subsídios e políticas governamentais que tratam a
conquista de mercados externos
como objetivo estratégico.
"No Brasil não mudam os problemas, logo não mudam as soluções", disse San Tiago Dantas
(1911-1964). A "boutade" se aplica
ao caso do estrangulamento da indústria, que vai ocorrendo por razões há muito conhecidas.
Próximo Texto: Editoriais: Versões de Erenice Índice | Comunicar Erros
|