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ANTONIO DELFIM NETTO
Dívida pública
Um dos aspectos mais importantes e menos visíveis da
política fiscal do governo é a
grande melhoria da administração da dívida pública. Da
enorme diversidade de causas
que a teoria econômica sugere
(e a pesquisa empírica procura
quantificar) para "explicar" a
taxa de juro real da economia,
sempre se destaca a relação
dívida pública/PIB. Mas ela
não é insensível à "qualidade"
do seu financiamento.
A grande maioria dos trabalhos empíricos mostra, em geral, uma relação positiva entre
as duas variáveis. Como o aumento da dívida pública depende do deficit fiscal e da taxa de juro, fica evidente que
há uma relação endógena que
determina o seu crescimento.
Por exemplo, a dívida de
2011 será, necessariamente,
igual à dívida de 2010 mais os
juros do ano, menos a sua
amortização (o superavit primário). É isso o que torna o
"superavit primário" um fator
importante para a sustentabilidade e solvabilidade da dívida pública.
Qualquer dúvida sobre estas leva os credores a exigirem
uma taxa de "risco" maior, o
que eleva os juros. Aqui, a
"qualidade" do financiamento é um fator muito importante. Como de fato o que interessa é a relação dívida/ PIB, é
claro que o outro fator é a taxa
de crescimento do próprio
PIB. Em outras palavras, o que
importa é a relação entre o
crescimento da dívida (que
depende do deficit primário e
da taxa de juros) e o crescimento do PIB.
Se a expectativa de crescimento da dívida for maior do
que a do PIB, a relação crescerá e levará a uma tendência do
aumento da taxa de juros. Isso
exigirá um superavit primário
maior (aumento dos impostos
ou corte das despesas).
A "qualidade" do financiamento da dívida faz muita diferença nessa relação. Esses
dois fatos estão agora claramente visíveis nos problemas
fiscais dos países da Comunidade Econômica Europeia.
Um dos avanços institucionais mais importantes na economia brasileira foi a criação e
o contínuo aperfeiçoamento
profissional da Secretaria do
Tesouro Nacional.
Seguramente, um dos caminhos mais interessantes para
o financiamento da dívida interna é a venda de papéis em
reais no exterior, o que exige a
construção de um mercado
com liquidez e pode ter influência importante na formação da taxa cambial, como
tem insistido o competente secretário Arno Augustin.
A recente colocação desses
papéis e a resistência do Tesouro, evitando sancionar o
desejado aumento de juros devido ao aumento do IOF, são
fatores positivos que mostram
a melhora da "qualidade" do
financiamento de nossa dívida interna e externa.
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às
quartas-feiras nesta coluna.
contatodelfimnetto@terra.com.br
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