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RUY CASTRO
Pato manco
RIO DE JANEIRO - No domingo à
noite, assim que se apurar a última
urna, o novo presidente (ou, mais
provável, a nova presidente) fará
bem se começar o trabalho por onde o presidente Lula o deixou: tomando as duas partes em que ele
dividiu a nação e se propondo a
uni-las -tornando-a de novo uma
nação, não uma torcida de Fla-Flu
ou uma guerra de facções. Presidentes para valer são presidentes
de todos, não apenas da sua galera.
Ainda mais se este presidente
tem 80% de aprovação popular
-por que não ser magnânimo e tolerar a existência dos outros 20%?
Mas talvez a preocupação de Lula
esteja em saber que essa aprovação
ainda não se transferiu numericamente para sua candidata. Dilma
não está esmagando Serra por 80%
a 20%. Significa que nem todos os
fãs de Lula são loucos por Dilma, e
que parte deles continua indecisa
ou até votará em Serra.
E pode haver algo ainda mais sério estomagando-o. A partir de segunda-feira, Lula será um "lame
duck" -"pato manco", no jargão
político. Trata-se do governante
que, eleito o seu sucessor, tem ainda alguns meses de mandato a
cumprir, mas sem a autoridade da
véspera. Não pode deixar o barco à
deriva, mas deve evitar fazer marolas que comprometam possíveis
metas de seu sucessor. Pelo menos,
é assim nos EUA, onde se originou a
expressão.
É o que saberemos no Brasil dentro de dias, caso Dilma seja eleita.
Se Lula continuar chapinhando
com o velho desembaraço e voluntarismo -nunca antes na história
deste país alguém se sentiu tão à
vontade no trono presidencial, nem
Getulio-, pode ser uma prévia do
que os próximos quatro anos nos
reservam. Resta observar se Dilma,
uma vez no trono, se submeterá.
Mas, se, ao contrário, Lula assumir de repente uma pose mais austera, serena e reservada, quem sabe, no futuro, poderá até se tornar
um estadista?
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