São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2010

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RUY CASTRO

Pato manco

RIO DE JANEIRO - No domingo à noite, assim que se apurar a última urna, o novo presidente (ou, mais provável, a nova presidente) fará bem se começar o trabalho por onde o presidente Lula o deixou: tomando as duas partes em que ele dividiu a nação e se propondo a uni-las -tornando-a de novo uma nação, não uma torcida de Fla-Flu ou uma guerra de facções. Presidentes para valer são presidentes de todos, não apenas da sua galera.
Ainda mais se este presidente tem 80% de aprovação popular -por que não ser magnânimo e tolerar a existência dos outros 20%? Mas talvez a preocupação de Lula esteja em saber que essa aprovação ainda não se transferiu numericamente para sua candidata. Dilma não está esmagando Serra por 80% a 20%. Significa que nem todos os fãs de Lula são loucos por Dilma, e que parte deles continua indecisa ou até votará em Serra.
E pode haver algo ainda mais sério estomagando-o. A partir de segunda-feira, Lula será um "lame duck" -"pato manco", no jargão político. Trata-se do governante que, eleito o seu sucessor, tem ainda alguns meses de mandato a cumprir, mas sem a autoridade da véspera. Não pode deixar o barco à deriva, mas deve evitar fazer marolas que comprometam possíveis metas de seu sucessor. Pelo menos, é assim nos EUA, onde se originou a expressão.
É o que saberemos no Brasil dentro de dias, caso Dilma seja eleita. Se Lula continuar chapinhando com o velho desembaraço e voluntarismo -nunca antes na história deste país alguém se sentiu tão à vontade no trono presidencial, nem Getulio-, pode ser uma prévia do que os próximos quatro anos nos reservam. Resta observar se Dilma, uma vez no trono, se submeterá.
Mas, se, ao contrário, Lula assumir de repente uma pose mais austera, serena e reservada, quem sabe, no futuro, poderá até se tornar um estadista?


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