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São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2003

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SERGIO TORRES

Encontro de cadáver?

RIO DE JANEIRO - No dia 9 de agosto, o corpo de um homem foi achado em Itaguaí, município colado à zona oeste carioca. Estava com as mãos amarradas. Tinha marcas de tiros. Na delegacia da cidade (50ª DP), a ocorrência recebeu o código 00/856/ 0050. A vítima não foi identificada.
Seis dias depois, a DP registrou em seu boletim de ocorrências o código 00/888/0050. Tratava de mais uma morte. De novo, um desconhecido, ferido mortalmente nas costas e no pescoço. A causa dos ferimentos o boletim não diz. Envolvia o corpo um saco plástico transparente.
Qual a relação entre os casos, fora o desconhecimento policial sobre a identidade das vítimas? O absurdo de não terem sido considerados homicídios pela Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio.
O caso "das mãos amarradas" e o caso "do saco plástico" não passaram, segundo as estatísticas oficiais da secretaria, de "encontro de cadáver". Ou seja: para a secretaria, os dois evidentes assassinatos não são considerados como tal.
Em recente entrevista, Jorge da Silva, presidente do órgão da secretaria responsável pelas estatísticas, o Instituto de Segurança Pública, disse que o "encontro de cadáver" ocorre quando a polícia não consegue apurar se houve homicídio, suicídio ou morte natural (mal súbito ou coisa parecida).
A explicação é inconvincente. Os casos não deixam dúvidas. Ninguém se mata com as mãos amarradas ou ferindo as próprias costas, ainda mais com o corpo dentro de um saco plástico.
Desde que o ex-governador Anthony Garotinho virou secretário de Segurança, em abril, oficialmente cai o número de homicídios.
Os dois exemplos lançam a suspeita de que algo estranho acontece com as estatísticas do governo fluminense. A DP de Itaguaí é uma das 126 do Estado. Sabe-se lá o que pode estar ocorrendo com os registros nas demais.


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