|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SERGIO TORRES
Encontro de cadáver?
RIO DE JANEIRO - No dia 9 de agosto, o corpo de um homem foi achado em
Itaguaí, município colado à zona
oeste carioca. Estava com as mãos
amarradas. Tinha marcas de tiros.
Na delegacia da cidade (50ª DP), a
ocorrência recebeu o código 00/856/
0050. A vítima não foi identificada.
Seis dias depois, a DP registrou em
seu boletim de ocorrências o código
00/888/0050. Tratava de mais uma
morte. De novo, um desconhecido, ferido mortalmente nas costas e no pescoço. A causa dos ferimentos o boletim não diz. Envolvia o corpo um saco plástico transparente.
Qual a relação entre os casos, fora o
desconhecimento policial sobre a
identidade das vítimas? O absurdo de
não terem sido considerados homicídios pela Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio.
O caso "das mãos amarradas" e o
caso "do saco plástico" não passaram, segundo as estatísticas oficiais
da secretaria, de "encontro de cadáver". Ou seja: para a secretaria, os
dois evidentes assassinatos não são
considerados como tal.
Em recente entrevista, Jorge da Silva, presidente do órgão da secretaria
responsável pelas estatísticas, o Instituto de Segurança Pública, disse que
o "encontro de cadáver" ocorre
quando a polícia não consegue apurar se houve homicídio, suicídio ou
morte natural (mal súbito ou coisa
parecida).
A explicação é inconvincente. Os
casos não deixam dúvidas. Ninguém
se mata com as mãos amarradas ou
ferindo as próprias costas, ainda
mais com o corpo dentro de um saco
plástico.
Desde que o ex-governador Anthony Garotinho virou secretário de
Segurança, em abril, oficialmente cai
o número de homicídios.
Os dois exemplos lançam a suspeita
de que algo estranho acontece com as
estatísticas do governo fluminense. A
DP de Itaguaí é uma das 126 do Estado. Sabe-se lá o que pode estar ocorrendo com os registros nas demais.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: O que é isso, companheiros? Próximo Texto: Otavio Frias Filho: Invasões bárbaras Índice
|