São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2004

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INTOLERÂNCIA

A Holanda está às voltas com um dilema: deve lidar com a crescente comunidade islâmica que vive no país seguindo sua já proverbial tradição de acolhimento e tolerância, ou tornando a imigração mais difícil e criando regras que busquem forçar a integração?
O debate não é exatamente novo. Ele já vivera um pico com a notável votação que a LPF (Lista Pim Fortuyn), partido da extrema direita, recebeu nas eleições de 2002, empunhando bandeiras como a revisão das leis de asilo para estrangeiros. A questão, contudo, ganhou força redobrada após o assassinato, três semanas atrás, do cineasta Theo Van Gogh, diretor de um filme que contém críticas à atitude do islã para com as mulheres. A película foi considerada "blasfema" ao exibir imagens de mulheres nuas mostrando suas peles estampadas com versos do Alcorão e ao se referir a homens muçulmanos como zoófilos.
Theo Van Gogh também criticava judeus, homossexuais e julgava excessiva a tolerância holandesa, que, segundo ele, acabaria tornando o país refém de grupos extremistas. Van Gogh foi morto por um conhecido radical islâmico holandês em plena luz do dia em Amsterdã. Recebeu seis tiros e teve cravado em seu peito um punhal com uma carta atacando os inimigos do islã.
Ações como essa parecem ser principalmente um caso de polícia. Contam-se, no entanto, aos milhares os militantes islâmicos extremistas na Europa -e em algumas dezenas os que atuam na Holanda. O fato mais preocupante é que parcela não-desprezível (entre 10% e 15%) da população muçulmana no continente é simpática ao discurso radical. E, como causa ou conseqüência, fortalecem-se as correntes que defendem políticas xenófobas, mesmo em ilhas de tolerância como a Holanda.
O risco, nesse contexto em que mecanismos de rejeição de um grupo ao outro tendem a se retroalimentar, é o de um acirramento de conflitos que dê lugar a explosões de ódio.


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