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A AIDS E AS MULHERES
Como ocorre todos os anos
no mês de novembro, as Nações Unidas divulgam números cada
vez mais sombrios sobre a epidemia
global de Aids. De acordo com o
mais recente relatório, há hoje no
planeta 39,4 milhões de pessoas convivendo com o vírus, contra 38,1 milhões em 2003.
As novas estatísticas confirmam
uma tendência que já se insinuava
nos relatórios anteriores: a feminilização da epidemia. No Brasil, por
exemplo, havia, em 1985, uma mulher com a doença para cada 28 homens. Hoje, a divisão vai se aproximando de um para um. Em termos
globais, elas representam 44,7% do
total de infectados.
A tendência é que essa situação se
agrave. O risco de uma mulher infectar-se com o vírus HIV numa relação
com um homem é duas vezes maior
do que o de um representante do sexo masculino contrair a doença numa relação sexual tradicional.
Essa mudança no perfil epidemiológico da doença tem implicações
nada triviais. A mais urgente é voltar
os esforços de prevenção para o público feminino. Não é apenas a natureza que as desfavorece no que diz
respeito à suscetibilidade à Aids mas
também as sociedades.
Em muitas partes do mundo, elas
não podem nem mesmo recusar-se a
manter relações sexuais com maridos infectados. Na eventualidade de
se tornarem viúvas, dão um passo rumo à pobreza absoluta, freqüentemente vendo-se forçadas a prostituir-se ou mendigar. Péssimas condições de vida tendem a deteriorar
ainda mais sua condição física.
Quando morrem, com freqüência
deixam órfãos, muitas vezes também portadores da doença.
Entre os poucos pacientes com
acesso a medicamentos nas regiões
mais pobres do mundo, o número de
homens que recebem as drogas é
maior que o de mulheres. Nesse sentido, conter a tendência de feminilização da epidemia é uma tarefa que
envolve também a difícil superação
de arraigados preconceitos sociais.
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