São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2004

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A AIDS E AS MULHERES

Como ocorre todos os anos no mês de novembro, as Nações Unidas divulgam números cada vez mais sombrios sobre a epidemia global de Aids. De acordo com o mais recente relatório, há hoje no planeta 39,4 milhões de pessoas convivendo com o vírus, contra 38,1 milhões em 2003.
As novas estatísticas confirmam uma tendência que já se insinuava nos relatórios anteriores: a feminilização da epidemia. No Brasil, por exemplo, havia, em 1985, uma mulher com a doença para cada 28 homens. Hoje, a divisão vai se aproximando de um para um. Em termos globais, elas representam 44,7% do total de infectados.
A tendência é que essa situação se agrave. O risco de uma mulher infectar-se com o vírus HIV numa relação com um homem é duas vezes maior do que o de um representante do sexo masculino contrair a doença numa relação sexual tradicional.
Essa mudança no perfil epidemiológico da doença tem implicações nada triviais. A mais urgente é voltar os esforços de prevenção para o público feminino. Não é apenas a natureza que as desfavorece no que diz respeito à suscetibilidade à Aids mas também as sociedades.
Em muitas partes do mundo, elas não podem nem mesmo recusar-se a manter relações sexuais com maridos infectados. Na eventualidade de se tornarem viúvas, dão um passo rumo à pobreza absoluta, freqüentemente vendo-se forçadas a prostituir-se ou mendigar. Péssimas condições de vida tendem a deteriorar ainda mais sua condição física. Quando morrem, com freqüência deixam órfãos, muitas vezes também portadores da doença.
Entre os poucos pacientes com acesso a medicamentos nas regiões mais pobres do mundo, o número de homens que recebem as drogas é maior que o de mulheres. Nesse sentido, conter a tendência de feminilização da epidemia é uma tarefa que envolve também a difícil superação de arraigados preconceitos sociais.


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