São Paulo, terça-feira, 27 de novembro de 2007

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Terapias monetárias

Enquanto cresce o temor de recessão nos EUA, países ricos se colocam diante de um dilema para administrar a crise

AUMENTAM as preocupações sobre o futuro da economia americana. As estimativas de prejuízos do sistema financeiro com as hipotecas de alto risco variam de US$ 200 bilhões a US$ 500 bilhões. As taxas de juros para empresas com maior classificação de risco aumentam, sinalizando contração no crédito e desaceleração (provavelmente recessiva) da maior economia do planeta.
No mercado mundial de moedas, que gira US$ 3,2 trilhões por dia, o dólar está numa das pontas em 86,3% das operações. O aumento das vendas da moeda resulta em pronunciada desvalorização. Esse fato, no entanto, não configura o desabamento do dólar como pilar que sustenta a arquitetura financeira global.
As taxas de juros dos títulos do Tesouro americano estão cadentes. Se houvesse fuga do dólar, subiriam. Quando a procura por um título de dívida diminui, seu preço cai (como acontece com toda mercadoria), o que eleva a taxa de juros embutida. Um papel comprado a US$ 100, com rendimento nominal de 4% ao ano, renderá 6% se for recomprado a US$ 98 no mercado.
O que ocorre com a dívida pública americana é o contrário. Como a procura aumenta, seu preço também sobe, e os juros caem. Há, pois, cada vez mais investidores se refugiando no título mais seguro do mercado financeiro global. Decerto a ação de bancos centrais como o japonês, o chinês e até o brasileiro colabora para esse processo. Um colapso do dólar não interessa a essas nações, que passam por um ciclo forte de crescimento assentado no "statu quo" monetário.
Para que os EUA voltem a crescer, a desvalorização pode tornar-se imprescindível. Ao facilitar as exportações americanas e inibir as importações, o dólar barato tende a ajudar na diminuição do seu déficit comercial com o resto do mundo.
Mas, para tanto, a administração de um dilema de curto prazo pelos principais bancos centrais fará toda a diferença. De um lado está o risco de recessão, que recomenda redução das taxas de juros de curto prazo. Do outro está um fenômeno que sugere a terapia oposta: a inundação de capitais em busca de aplicações rentáveis infla o preço de produtos, moedas e títulos de emergentes.
Optar por um remédio é, necessariamente, aumentar o risco de infecção pelo outro mal.


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