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Constituição no quartel
O PRESIDENTE Evo Morales,
da Bolívia, conseguiu
aprovar no sábado, em
primeira votação, o texto de uma
nova Constituição sob medida
para seus interesses. Só que o alto custo político do triunfo poderá torná-lo vitória de Pirro.
Os últimos fatos em Sucre dão
a medida do grau de polarização.
Após meses de impasse, a proposta de Constituição foi votada
de afogadilho num quartel e sem
os deputados oposicionistas. Do
lado de fora, confrontos de rua
deixaram mortos e feridos.
Para vigorar, o texto constitucional precisa ser aprovado numa segunda votação, na qual cada um dos 408 artigos tem de receber a chancela de 2/3 dos 255
parlamentares da Assembléia.
Depois disso, a proposta deve ser
submetida a referendo popular.
A segunda parte é mais fácil,
pois Morales sustenta índices de
popularidade de 60%. Mas enfrenta oposição bem-articulada,
que comanda seis dos nove departamentos do país -sobretudo na faixa leste, a mais rica- e
tem votos suficientes na Assembléia para impedir que o governo
obtenha maioria qualificada.
Em condições normais, tal situação convidaria ao acordo. Para ter suas principais propostas
aceitas, o governo cederia na ampliação da autonomia dos departamentos, maior pleito oposicionista. Os dois lados, contudo, optaram pelo confronto e reavivaram velhas feridas -como a volta da capital de La Paz para Sucre, polêmica que provocara uma
guerra civil no fim do século 19.
A oposição fala em secessão, e
Morales acena que não pretende
recuar. Há quem aposte que ele
dispensará a segunda votação e
levará a Carta diretamente a referendo, o que violaria o decreto
que convocou a Constituinte.
Contribuir para o apaziguamento dos ânimos na Bolívia é
uma diretriz que está ao alcance
da política externa brasileira.
Que o presidente Lula se dedique
à tarefa na visita ao país vizinho,
prevista para 12 de dezembro.
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