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MARCOS NOBRE
Fantasmas
O PSDB está bem perdido.
Tem os dois principais candidatos à Presidência, mas
não tem discurso. A propaganda
política do partido aceitou toda a
agenda do governo atual. Limita-se
a dizer que já tinha feito tudo o que
há de bom e que não fez nada do
que há de ruim. É simplesmente
propaganda grátis para Lula.
Fazer da defesa do governo FHC
plataforma política é estratégia fadada ao fracasso. O próprio Fernando Henrique já não tem mais
vigor para produzir um discurso
que unifique o partido. Detentor
por antecipação do troféu "Preconceito de Classe 2007", insistiu o
quanto pôde no fantasma de um
terceiro mandato para Lula. Simplesmente não colou.
O PSDB inventa fantasmas para
substituir propostas políticas. Diz
que Chávez pode se tornar um ditador na Venezuela. Depois diz que
Lula copia Chávez. E conclui como
o senador Tasso Jereissati: "TV Pública, expurgos no Ipea, elogios à
Venezuela para dinamitar o Mercosul. É esse conjunto que não está
cheirando bem".
Cheiro não convence ninguém
que já não esteja convencido.
Quanto mais o PSDB insiste nesse
discurso, mais Lula elogia Chávez.
E fica tudo na mesma, porque se
desvia a atenção do que realmente
importa e a discussão gira em falso.
O problema de fundo é que o
PSDB está rachado de maneira irremediável entre Aécio e Serra. O
clima de disputa aberta ficou claro
no congresso do partido. Minas
Gerais, Geraldo Alckmin e Tasso
Jereissati estão com Aécio. Serra
tem o resto. Incluindo o apoio de
FHC, que até agora mais atrapalha
do que ajuda.
Um discurso unificado é impossível neste momento porque Aécio
e Serra têm estilos completamente
diferentes. Isso faz com que o
PSDB fique oscilando entre fantasmas, cheiros de ditadura e uma defesa arrevesada do governo FHC.
Até este momento, os candidatos
tucanos simplesmente não têm adversários. Podem se dar ao luxo de
ver as principais figuras de seu partido baterem cabeça em público.
Mas essa arrogância pode custar
caro. Porque o PSDB só conseguirá
ter novamente um discurso unificado quando definir seu candidato.
E isso só vai acontecer em 2009 ou
em 2010.
Sem alarde, a candidatura de Ciro Gomes se firma cada vez mais no
cenário político. Mas ainda não
dispõe de base nacional para deslanchar. E o PT continua apostando em que o apoio de Lula dará
uma grande vantagem de saída à
sua candidatura, seja ela qual for.
Não é apenas um equívoco. É também manifestação de uma arrogância simétrica à do PSDB.
O resultado desse quadro é um
debate político de nível medíocre.
O governo de Lula mais uma vez
agradece.
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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