São Paulo, terça-feira, 27 de novembro de 2007

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MARCOS NOBRE

Fantasmas

O PSDB está bem perdido. Tem os dois principais candidatos à Presidência, mas não tem discurso. A propaganda política do partido aceitou toda a agenda do governo atual. Limita-se a dizer que já tinha feito tudo o que há de bom e que não fez nada do que há de ruim. É simplesmente propaganda grátis para Lula.
Fazer da defesa do governo FHC plataforma política é estratégia fadada ao fracasso. O próprio Fernando Henrique já não tem mais vigor para produzir um discurso que unifique o partido. Detentor por antecipação do troféu "Preconceito de Classe 2007", insistiu o quanto pôde no fantasma de um terceiro mandato para Lula. Simplesmente não colou.
O PSDB inventa fantasmas para substituir propostas políticas. Diz que Chávez pode se tornar um ditador na Venezuela. Depois diz que Lula copia Chávez. E conclui como o senador Tasso Jereissati: "TV Pública, expurgos no Ipea, elogios à Venezuela para dinamitar o Mercosul. É esse conjunto que não está cheirando bem".
Cheiro não convence ninguém que já não esteja convencido. Quanto mais o PSDB insiste nesse discurso, mais Lula elogia Chávez. E fica tudo na mesma, porque se desvia a atenção do que realmente importa e a discussão gira em falso.
O problema de fundo é que o PSDB está rachado de maneira irremediável entre Aécio e Serra. O clima de disputa aberta ficou claro no congresso do partido. Minas Gerais, Geraldo Alckmin e Tasso Jereissati estão com Aécio. Serra tem o resto. Incluindo o apoio de FHC, que até agora mais atrapalha do que ajuda.
Um discurso unificado é impossível neste momento porque Aécio e Serra têm estilos completamente diferentes. Isso faz com que o PSDB fique oscilando entre fantasmas, cheiros de ditadura e uma defesa arrevesada do governo FHC.
Até este momento, os candidatos tucanos simplesmente não têm adversários. Podem se dar ao luxo de ver as principais figuras de seu partido baterem cabeça em público. Mas essa arrogância pode custar caro. Porque o PSDB só conseguirá ter novamente um discurso unificado quando definir seu candidato. E isso só vai acontecer em 2009 ou em 2010.
Sem alarde, a candidatura de Ciro Gomes se firma cada vez mais no cenário político. Mas ainda não dispõe de base nacional para deslanchar. E o PT continua apostando em que o apoio de Lula dará uma grande vantagem de saída à sua candidatura, seja ela qual for. Não é apenas um equívoco. É também manifestação de uma arrogância simétrica à do PSDB.
O resultado desse quadro é um debate político de nível medíocre. O governo de Lula mais uma vez agradece.


MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna.


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