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FERNANDO RODRIGUES
Estranha normalidade
BRASÍLIA - "O comando do Exército no combate à criminalidade e ao
tráfico de drogas no Rio é apoiado
por 86% dos moradores do Estado,
segundo pesquisa Datafolha realizada nos dias 7 e 8 deste mês", dizia
o primeiro parágrafo de um texto da
Folha publicado no longínquo 13
de novembro de 1994.
Suspeito que hoje, a julgar pelo
tom eufórico de alguns telejornais,
o apoio dos fluminenses à presença
dos militares esteja próximo dos
100%. Há 16 anos, como agora, o
governo do Estado do Rio de Janeiro havia firmado um convênio com
as Forças Armadas.
Ainda não havia TV a cabo com
noticiário brasileiro transmitido 24
horas para produzir o impacto
atual, mas a operação tinha magnitude semelhante à de agora. Estava
autorizado o uso de blindados, helicópteros e armamentos pesados.
Produziu-se um sucesso relativo,
com pacificação eventual das regiões dominadas pelo tráfico.
Passada uma década e meia, a situação se repete -de maneira mais
fluída. Quase inexiste pudor sobre
o uso de soldados do Exército em
áreas urbanas. Tudo parece muito
natural. "É um exemplo para outros Estados?", perguntava ontem a
GloboNews. O apoio inicial dos fuzileiros navais foi dado como vital
para desbaratar as quadrilhas e colocar bandidos em fuga.
Há, por sorte, uma diferença essencial de hoje para 1994: a existência das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Se a experiência for
replicada com rapidez, talvez seja
possível haver uma consolidação
do Estado nas áreas degradadas pelo crime. Seria uma forma (não a
única, por óbvio) de evitar o retorno
da bandidagem.
Quando há uma guerra, é difícil
julgar todas as ações no momento
em que ocorrem. É compreensível o
apoio aparentemente em massa
dos cidadãos de bem à ação militar
contra os narcotraficantes. Mas não
deixa de ser alarmante a estranha
naturalidade com que o uso das
Forças Armadas é recebido.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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