São Paulo, Segunda-feira, 27 de Dezembro de 1999


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A arquitetura do desemprego



A megatorre é um projeto que poderá concentrar diferentes necessidades da população

MARIO GARNERO

O artigo "Estranho objeto" ("Tendências/Debates", 13/12/99), do arquiteto Pedro Cury -hoje presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB)-, a pretexto de criticar o projeto do Maharishi São Paulo Tower, não traz nem sequer um arremedo de proposta para a renovação urbana do centro da cidade, há muito esperada pela população. Limitado, ele se atém à estética, beira o ranço do corporativismo e desinforma quando pretende defender as raízes de nossa cultura, tema que merece a atenção do projeto.
O São Paulo Tower -desenvolvido pelo Maharishi Global Development Fund, de Nova York, e pelo Grupo Brasilinvest- é uma proposta de revitalização do centro com benefícios econômicos, sociais e culturais que vão além do marcante fato de ser o maior prédio do mundo, com 510 metros de altura e 108 andares.
O projeto que veio pronto, "feito por alguém que desconhece nossa realidade", nas palavras de Cury, é de autoria do internacionalmente reconhecido escritório Minoru Yamasaki Associates, dos EUA, que desenhou obras de destaque no mundo inteiro, a exemplo do World Trade Center, com seus 417 metros de altura, um marco de Nova York. Foi criado por especialistas em grandes edifícios, que certamente são capazes de refletir o processo da globalização no qual estamos inseridos, para usar palavras iguais às do crítico.
Percebe-se no texto que somente o arquiteto Pedro Cury e uns poucos seguidores se acham capazes de projetar prédios universais sem que percamos as raízes de nossa cultura. Se o projeto urbanístico que propomos segue a arquitetura védica, em nenhum momento ele se vincula à religião. O Maharishi São Paulo Tower, que poderá dar ao centro um novo parque público com mais de 1 milhão de metros quadrados -onde estará um jardim botânico refletindo e preservando espécies de nossa mata atlântica-, associa-se à diversidade cultural do paulistano e do brasileiro, sim, quando se dispõe, com recursos da iniciativa privada, a preservar o patrimônio histórico daquela região, a construir uma nova igreja de São Vito, a doar um centro comunitário ecumênico dedicado a crianças e adultos carentes e a estimular o turismo de negócios na cidade.
É um projeto arquitetônico que poderá, mesmo, concentrar diferentes necessidades da população, colocando à disposição dela bares e restaurantes, apartamentos, universidade, escritórios de alta tecnologia, quatro hotéis, centro de exposições e convenções, escolas, creche, hospital, monotrilho e heliporto. Seus benefícios, como a transferência de tecnologia pelos modernos sistemas utilizados, são oferecidos à livre escolha da população, num empreendimento privado.
O arquiteto talvez se considere porta-voz do conjunto da sociedade ao fazer a inaceitável afirmação, pela característica da obra, de que "seremos obrigados a viver lá dentro, isolados do resto da cidade". Pergunto: "Seremos" quem, Pedro? Sua visão agride a inteligência e a livre escolha de cada cidadão que quiser trabalhar, buscar lazer, viver, ganhar dinheiro ou ter emprego num prédio moderno, capaz de reunir de 50 mil a 100 mil pessoas de uma região metropolitana com cerca de 16 milhões de habitantes.
O artigo revela o preconceito de uma elite sem proposta. Mostra a estética que cria áreas degradadas, faz a arquitetura do desemprego e do subdesenvolvimento. A proposta do Maharishi São Paulo Tower -aceita e apoiada oficialmente pelos sindicatos de trabalhadores de dois importantes setores que citarei e por muitas lideranças de destaque- gerará 10 mil empregos diretos e 60 mil indiretos na construção civil e, só com os hotéis, 16 mil empregos diretos, depois de concluído, em 2005. O centro de convenções e exposições do prédio criará outros 20 mil empregos diretos.
Nosso objetivo ao trazer a proposta da megatorre para o Brasil foi gerar riquezas, proporcionar desenvolvimento, atrair um investimento de US$ 1,65 bilhão, criar turismo, novos serviços e empregos, recuperar o centro da cidade. Horroroso, arquiteto Pedro Cury, é o desemprego, além do subdesenvolvimento e da ausência de propostas, só para citar mais dois exemplos.
Fico com a opinião do respeitado arquiteto, urbanista e professor da Universidade de São Paulo Candido Malta Campos Filho, que atua no projeto, quando prevê que o vetor de desenvolvimento gerado pelo São Paulo Tower, no sentido leste e sudeste, alcançará o bairro da Mooca e, no eixo do rio Tamanduateí, os municípios vizinhos de São Caetano do Sul, Santo André e Mauá. No sentido nordeste, chegará ao Tatuapé, à Penha e a Itaquera.
O projeto urbanístico está para se submeter ao ordenamento jurídico brasileiro. Respeitamos eventuais divergências e aceitamos avaliações de elevado nível. Nós, como empreendedores, oferecemos a proposta no âmbito do Procentro (Programa de Valorização do Centro). Restam, para sua sequência básica, as providências legais necessárias e prometidas pela prefeitura e a apreciação da Câmara Municipal de São Paulo, que saberá, democraticamente, refletir os anseios de nossa sociedade. Dessas medidas, agora, depende o projeto. Nossa tarefa inicial terminou.


Mario Garnero, 62, empresário, é presidente do Conselho de Administração do Grupo Brasilinvest.


Texto Anterior: TENDÊNCIAS E DEBATES
Sueli Carneiro: "Terra Nostra" só para os italianos

Próximo Texto: Painel do Leitor
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.