São Paulo, quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

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Acesso à habitação

Modernização de regras e redução de juros são essenciais para sustentar a entrada da classe C no mercado da casa própria

A EXPANSÃO do crédito, um dos pilares do crescimento econômico, não dá mostras de arrefecer. O Banco Central informou ontem que o saldo dos empréstimos no país fechou novembro em R$ 908,8 bilhões, o equivalente a 34,3% do PIB. Há dois anos, esse indicador era seis pontos percentuais menor.
As operações de leasing para pessoas físicas, muito acionadas no financiamento de veículos, são o destaque de 2007: dobraram em 11 meses. Compras a prazo de automóveis sustentam um crescimento anual estimado em 14% na produção automobilística.
O ritmo forte em que avança o crédito, contudo, ainda carrega uma boa dose de recuperação dos anos de crise. Só agora o Brasil retoma um volume de dinheiro emprestado compatível com o que circulava na economia no início do real. É verdade que as condições atuais -em termos de taxa média de juros e prazos- são melhores, mas ainda estão longe do ideal.
Economias de mercado em estágio de desenvolvimento parecido com o do Brasil costumam operar com indicadores de crédito acima de 50% do PIB. Nas nações desenvolvidas, é comum que ultrapassem 100% do PIB. Como a renda e o emprego no Brasil começam a reagir, também se recuperando de longa crise, e o investimento em novas fábricas, máquinas e processos produtivos avança em marcha acelerada, não há por que falar, agora, em "bolha" de crédito.
Nesse ambiente econômico menos opressor, o alongamento no prazo dos empréstimos -já se toma crédito para pagamento em 30 anos-, aliado à ainda discreta redução das taxas de juros ao tomador final, esboça uma novidade no setor imobiliário. Está em curso uma grande expansão na oferta de residências novas para a classe C.
O acesso da maioria da população a meios de mercado para financiar a casa própria, nem que seja ao longo de toda uma vida de trabalho, é uma marca de países desenvolvidos. O Brasil apenas arrisca seus primeiros passos nessa seara -o crédito imobiliário aqui ainda não ultrapassa os 2% do PIB-, mas tem uma oportunidade de abrir a via para uma caminhada mais longa.
Os juros precisam continuar a cair, o que depende cada vez menos do Banco Central e mais da política fiscal, e a agenda de modernização do mercado imobiliário deve ser retomada.


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