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CARLOS HEITOR CONY
A tese e a prática
RIO DE JANEIRO - Respeitei, e
até certo ponto admirei, a greve de
fome do bispo contrário à transposição do rio São Francisco. Mas desde que ouvi falar no projeto, fui a favor dele, escrevi algumas crônicas
no passado, citando inclusive as experiências bem-sucedidas nos Estados Unidos e no Egito.
Uma obra de tal magnitude exige
dois tipos de preliminares. A primeira é sobre o projeto em si, se ele
está tecnicamente perfeito, se cumpre a legislação ambiental, se resguarda as características naturais
do Velho Chico, sem prejudicar as
populações que vivem em suas
margens.
A segunda preliminar implica a
fiscalização severa dos custos, para
impedir que a transposição se converta num panamá -o nome do escândalo nasceu por ocasião da
construção do canal do Panamá. O
mesmo ocorreu com o canal de
Suez e com quase todas as grandes
obras, daqui e do mundo, que hoje
consideramos indispensáveis à vida
moderna.
No Brasil, tivemos muitos desses
casos: para citar alguns, a construção de Brasília, do estádio do Maracanã, da ponte Rio-Niterói, da estrada Belém-Brasília, do desmonte
do morro do Castelo. Um juiz está
preso por conta de um único pré-
dio do Judiciário paulista que o
enriqueceu.
As obras que citei foram discutidas na época quanto a sua importância e necessidade, mas hoje são
consideradas decorrências naturais
do processo de nossa ainda relativa
modernidade.
Não tenho condições para julgar
se o projeto está bem feito tecnicamente, se os custos são condizentes, se as vantagens da transposição
serão obtidas. Acácio disse: uma
coisa é a tese, outra a sua realização
prática. Quanto à possibilidade de
um escândalo tamanho família, espera-se que o Ministério Público e a
mídia cumpram o seu dever.
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