|
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Tempo na escola
Meta do governo de ampliar a quantidade de colégios em período integral é elogiável, mas fórmula não é garantia de melhores resultados
O debate sobre educação tem
melhorado de forma palpável no
Brasil. Um dos avanços observados está no abandono de propostas com sabor de panaceia, como
um dia já foi a de que tudo se resolveria com a adoção de ensino em
tempo integral. A ideia tem mérito, mas não o poder de apagar as
deficiências estruturais da rede
pública de ensino.
Costuma-se citar, nessas discussões, o exemplo do Chile, país
sul-americano com melhor desempenho em testes internacionais de conhecimentos dos estudantes. Associam-se os bons resultados ao fato de a maioria dos
alunos cumprir jornadas ampliadas na escola. É um raciocínio, no
entanto, duvidoso, ao estabelecer
uma relação de causa e efeito.
Feita a ressalva, é auspicioso
que o MEC tenha incluído entre as
20 metas do Plano Nacional de
Educação (PNE) 2011-2020 a de
oferecer sete horas diárias de atividades em 50% das escolas oficiais
de educação básica. O período habitual é de cerca de quatro horas.
É tão grave a insuficiência de
aprendizado na rede, com os corolários de desmotivação, repetência e abandono, que mais tempo
de contato entre mestres e alunos
não causará prejuízos. Sobretudo
se o período adicional for usado
para acompanhamento dos estudantes com dificuldades.
Há que preservar algum realismo a respeito da pretensão do
PNE, no entanto. Dados do MEC
dão conta de que o número de escolas públicas com período integral aumentou 16% em um ano.
Parece uma evolução excelente,
mas cabe assinalar que se parte de
um patamar baixíssimo.
Mesmo com o acréscimo, apenas 6% dos alunos das redes oficiais de ensino frequentam aulas
em período ampliado. Naquele ritmo, ao final da década coberta pelo plano só pouco mais de um
quarto dos estudantes contará
com esse benefício.
Além disso, há o problema da
carência de pessoal para suprir o
aumento da demanda por horas
de aula. Nas condições atuais, o
país já não consegue formar e
atrair professores com a qualidade e em quantidade necessárias,
em especial no campo das ciências naturais e da matemática.
Não é demais lembrar que ao final do ensino médio só 9,8% dos
estudantes atingem os índices desejáveis de conhecimento de matemática e a formação secundária
só é completada por 45% dos jovens de 19 anos -idade correta
para concluir o ensino médio.
A educação brasileira tem, portanto, problemas em demasia e está a exigir soluções integradas.
Mas não se pode passar ao largo
de uma questão primordial: nenhuma melhora duradoura será
obtida sem que se consiga atrair
para ministrar as aulas -em período integral ou não- boa parte
dos mais talentosos egressos das
universidades.
Países que registraram avanços
importantes na educação, como é
o caso da Coreia do Sul, desenvolveram políticas para recrutar docentes entre os mais bem formados no ensino superior. É um objetivo que não será cumprido no
Brasil caso persistam as atuais políticas salariais e as condições precárias da escola pública.
Próximo Texto: Editoriais: Reforma necessária
Índice | Comunicar Erros
|