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A CRISE E FHC
Segundo indica pesquisa Datafolha
publicada hoje por este jornal, poucas vezes durante seu governo o presidente Fernando Henrique Cardoso
foi tão mal avaliado pela população
como agora, a alguns dias do início
do seu segundo mandato.
Também de acordo com o Datafolha, o presidente já foi até mais criticado, como em junho de 1996, por
exemplo. Nesses momentos de baixa, no entanto, o país ou estava no
fim de um ciclo de ajuste depois de
uma tormenta financeira ou então
passava por episódios mais ou menos circunscritos de agitação social,
quando não vivia simultaneamente
as duas instabilidades. Mas, nesses
períodos, a popularidade do presidente sempre terminava emergindo
assim que as tensões sociais e econômicas começavam a arrefecer.
Agora, Fernando Henrique Cardoso
ressente-se ainda de uma crise mais
circunstancial, a dos escândalos do
grampo e do dossiê Caribe. Mas mais
grave é que, ainda no início de um
período longo de agruras econômicas, a popularidade presidencial esteja em seus níveis mais baixos: 35%
de ótimo/bom, 25% de ruim/péssimo. O recorde negativo ocorrera em
junho de 96: 30% de ótimo/bom e
25% de ruim/péssimo.
A avaliação de seu governo já é manifestamente insatisfatória agora,
quando o desemprego está na casa
dos 8% e 49% dos entrevistados consideram que a falta de trabalho é o
principal problema do país. Poderá
ser mais corroída ao longo dos primeiros meses do provavelmente tormentoso ano de 1999 na medida em
que os empregos escasseiem ainda
mais devido à recessão.
Esse ambiente poderá ser mais degradado devido ao fato de que o
grande esteio da popularidade de
Fernando Henrique Cardoso, o aumento de renda propiciado pelo
Real, deverá ser também atingido. Os
ganhos médios da população, segundo dados do IBGE, começaram a
declinar em 1997, mas de modo ainda pouco significativo. O resultado
de 1998 deve ter sido pior, assim como será ruim o de 1999.
Decerto o Real ainda goza de grande prestígio -é ótimo/bom para
61% dos entrevistados-, e conta
ponto para o presidente o fato de que
uma recessão sem inflação é socialmente menos dramática. Mas, no entanto, é preciso considerar que poucas vezes a boa avaliação da estabilidade monetária esteve tão descolada
da popularidade do presidente. O
Real não parece mais bastar. A opinião pública quer mais do governo
Fernando Henrique Cardoso e, provavelmente como nunca antes, está
com medo e está pessimista.
Esse clima de descontentamento
tende a crescer, embora não existam
elementos, por ora, para acreditar
que ele venha a ganhar um caráter explosivo. Mas a insatisfação, muitos
acreditam, deve subir gradativamente de tom e os efeitos dos custos sociais do presente plano anticrise podem se tornar mais um elemento de
incerteza em um país já assoberbado
por elas, em particular no que diz
respeito a suas frágeis finanças.
O presidente certamente está consciente desse cenário difícil e se preocupa com as providências necessárias para dar conta da presente situação econômica. Façamos votos de
que, apesar desse quadro de tensão,
tais medidas sejam tomadas com a
energia e a decisão necessárias.
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