São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 1998

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A CRISE E FHC

Segundo indica pesquisa Datafolha publicada hoje por este jornal, poucas vezes durante seu governo o presidente Fernando Henrique Cardoso foi tão mal avaliado pela população como agora, a alguns dias do início do seu segundo mandato.
Também de acordo com o Datafolha, o presidente já foi até mais criticado, como em junho de 1996, por exemplo. Nesses momentos de baixa, no entanto, o país ou estava no fim de um ciclo de ajuste depois de uma tormenta financeira ou então passava por episódios mais ou menos circunscritos de agitação social, quando não vivia simultaneamente as duas instabilidades. Mas, nesses períodos, a popularidade do presidente sempre terminava emergindo assim que as tensões sociais e econômicas começavam a arrefecer.
Agora, Fernando Henrique Cardoso ressente-se ainda de uma crise mais circunstancial, a dos escândalos do grampo e do dossiê Caribe. Mas mais grave é que, ainda no início de um período longo de agruras econômicas, a popularidade presidencial esteja em seus níveis mais baixos: 35% de ótimo/bom, 25% de ruim/péssimo. O recorde negativo ocorrera em junho de 96: 30% de ótimo/bom e 25% de ruim/péssimo.
A avaliação de seu governo já é manifestamente insatisfatória agora, quando o desemprego está na casa dos 8% e 49% dos entrevistados consideram que a falta de trabalho é o principal problema do país. Poderá ser mais corroída ao longo dos primeiros meses do provavelmente tormentoso ano de 1999 na medida em que os empregos escasseiem ainda mais devido à recessão.
Esse ambiente poderá ser mais degradado devido ao fato de que o grande esteio da popularidade de Fernando Henrique Cardoso, o aumento de renda propiciado pelo Real, deverá ser também atingido. Os ganhos médios da população, segundo dados do IBGE, começaram a declinar em 1997, mas de modo ainda pouco significativo. O resultado de 1998 deve ter sido pior, assim como será ruim o de 1999.
Decerto o Real ainda goza de grande prestígio -é ótimo/bom para 61% dos entrevistados-, e conta ponto para o presidente o fato de que uma recessão sem inflação é socialmente menos dramática. Mas, no entanto, é preciso considerar que poucas vezes a boa avaliação da estabilidade monetária esteve tão descolada da popularidade do presidente. O Real não parece mais bastar. A opinião pública quer mais do governo Fernando Henrique Cardoso e, provavelmente como nunca antes, está com medo e está pessimista.
Esse clima de descontentamento tende a crescer, embora não existam elementos, por ora, para acreditar que ele venha a ganhar um caráter explosivo. Mas a insatisfação, muitos acreditam, deve subir gradativamente de tom e os efeitos dos custos sociais do presente plano anticrise podem se tornar mais um elemento de incerteza em um país já assoberbado por elas, em particular no que diz respeito a suas frágeis finanças.
O presidente certamente está consciente desse cenário difícil e se preocupa com as providências necessárias para dar conta da presente situação econômica. Façamos votos de que, apesar desse quadro de tensão, tais medidas sejam tomadas com a energia e a decisão necessárias.



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