São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 1998

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Brasil: liquidação forçada?

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

O ano de 1998 foi marcado pela onda de fusões e incorporações. Isso ocorreu no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Nota-se uma clara tendência de centralização dos capitais, mesmo nos casos em que a produção se mantém descentralizada.
As fusões e incorporações atingiram quase todos os setores da economia, desde o automobilístico e o bancário até o de petróleo, o de celulose e o de metais. Cada operação desse tipo foi sempre seguida de enxugamento da administração, racionalização dos serviços e redução de postos de trabalho.
No Brasil, o processo adquiriu uma característica especial. As empresas brasileiras que já vinham sendo acossadas pela forte competição de uma economia globalizada passaram a ficar sem oxigênio no momento em que tiveram de pagar os mais altos juros do mundo e enfrentar uma carga tributária de alto peso para países do mesmo nível de desenvolvimento.
A asfixia da empresa nacional tornou-a presa fácil das empresas estrangeiras. Para estas, foi possível comprar uma empresa brasileira, pagando juros externos de 4% ou 5% ao ano, com carência de cinco e um prazo de 30 anos para pagar o principal.
Dada a grandiosidade do mercado brasileiro e as perspectivas favoráveis de sua expansão, uma vez superada a crise atual, comprar empresas brasileiras transformou-se em um dos melhores negócios do mundo, em especial as que, por força da abertura da economia, fizeram a sua lição de casa, modernizaram seus processos produtivos e racionalizaram a sua administração.
Não são poucos os casos de boas empresas brasileiras que foram compradas por capitais estrangeiros, a preço aviltado, e com as facilidades do crédito externo que inexistem no Brasil.
Não sou contra a entrada de capitais estrangeiros, especialmente quando estes se dirigem à produção. Mas tenho a obrigação de ser contra a política que oprime a competência nacional. Que os ineficientes sejam atropelados, tudo bem. Mas que os empresários operosos sejam castigados pela maldade de juros escorchantes, tributos exorbitantes e câmbio irrealista é demais.
Mais grave ainda, como disse o meu amigo Matias, fazendeiro de sucesso no interior de São Paulo, é ver as autoridades brasileiras anunciando ao resto do planeta que, para os interessados em comprar empreendimentos na bacia das almas, basta ter calma, porque a maldade vai continuar e os empresários brasileiros vão ser obrigados a entregar a preço de banana o que levaram várias gerações para construir.
Apagar e esquecer essa atitude impatriótica é de responsabilidade do governo. Cabe a ele dizer ao mundo que o Brasil não está fechado a quem aqui deseja ingressar para colaborar com a produção e o emprego nacional. E, ao mesmo tempo, que a nação vai preservar a vida dos brasileiros laboriosos que, durante décadas, investiram para garantir produção, gerar empregos e pagar impostos.
Enfim, o mundo precisa saber que este país não está em liquidação forçada ou provocada pelo governo brasileiro.


Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.



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