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Brasil: liquidação forçada?
ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES
O ano de 1998 foi marcado pela onda
de fusões e incorporações. Isso ocorreu no mundo inteiro, inclusive no
Brasil. Nota-se uma clara tendência de
centralização dos capitais, mesmo nos
casos em que a produção se mantém
descentralizada.
As fusões e incorporações atingiram
quase todos os setores da economia,
desde o automobilístico e o bancário
até o de petróleo, o de celulose e o de
metais. Cada operação desse tipo foi
sempre seguida de enxugamento da
administração, racionalização dos
serviços e redução de postos de trabalho.
No Brasil, o processo adquiriu uma
característica especial. As empresas
brasileiras que já vinham sendo acossadas pela forte competição de uma
economia globalizada passaram a ficar sem oxigênio no momento em que
tiveram de pagar os mais altos juros
do mundo e enfrentar uma carga tributária de alto peso para países do
mesmo nível de desenvolvimento.
A asfixia da empresa nacional tornou-a presa fácil das empresas estrangeiras. Para estas, foi possível comprar uma empresa brasileira, pagando
juros externos de 4% ou 5% ao ano,
com carência de cinco e um prazo de
30 anos para pagar o principal.
Dada a grandiosidade do mercado
brasileiro e as perspectivas favoráveis
de sua expansão, uma vez superada a
crise atual, comprar empresas brasileiras transformou-se em um dos melhores negócios do mundo, em especial as que, por força da abertura da
economia, fizeram a sua lição de casa,
modernizaram seus processos produtivos e racionalizaram a sua administração.
Não são poucos os casos de boas
empresas brasileiras que foram compradas por capitais estrangeiros, a
preço aviltado, e com as facilidades do
crédito externo que inexistem no Brasil.
Não sou contra a entrada de capitais
estrangeiros, especialmente quando
estes se dirigem à produção. Mas tenho a obrigação de ser contra a política que oprime a competência nacional. Que os ineficientes sejam atropelados, tudo bem. Mas que os empresários operosos sejam castigados pela
maldade de juros escorchantes, tributos exorbitantes e câmbio irrealista é
demais.
Mais grave ainda, como disse o meu
amigo Matias, fazendeiro de sucesso
no interior de São Paulo, é ver as autoridades brasileiras anunciando ao
resto do planeta que, para os interessados em comprar empreendimentos
na bacia das almas, basta ter calma,
porque a maldade vai continuar e os
empresários brasileiros vão ser obrigados a entregar a preço de banana o
que levaram várias gerações para
construir.
Apagar e esquecer essa atitude impatriótica é de responsabilidade do
governo. Cabe a ele dizer ao mundo
que o Brasil não está fechado a quem
aqui deseja ingressar para colaborar
com a produção e o emprego nacional. E, ao mesmo tempo, que a nação
vai preservar a vida dos brasileiros laboriosos que, durante décadas, investiram para garantir produção, gerar
empregos e pagar impostos.
Enfim, o mundo precisa saber que
este país não está em liquidação forçada ou provocada pelo governo brasileiro.
Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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