São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 1998

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Evoé para o ministério

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Antes que algum desavisado me cobre, não custa dar a minha opinião sobre o ministério que dolorosamente veio à luz às vésperas do Natal, mais um presente aos interessados do que à nação.
Minha opinião é simples: não tenho opinião alguma a respeito dele. Num regime presidencialista como o nosso, em que o presidente cuida não apenas da coisa pública, que é a república, mas de todas as coisas, públicas ou não, o ministério é um penduricalho resultante de acordos que nada têm a ver com o que deveria se esperar de uma equipe operacional.
Os ministros são nomeados por isso ou aquilo, porque contentam a fulano, porque perderam a eleição e ficaram sem emprego, porque ajudaram na campanha. Há até ministros que, se forem severamente perguntados, nem saberão responder por que são ministros disso ou daquilo. São polivalentes, podem cuidar dos recursos hídricos, da administração, das relações exteriores ou das relações interiores.
Uma das coisas que sempre admirei nos colunistas políticos é a excitação da turma toda vez que se arma um ministério. Nem mesmo quando há Copa do Mundo e todos aguardam a nova seleção há tanto e tamanho gáudio entre os cronistas esportivos.
Bem, numa seleção sempre há pé com cabeça. Nenhum treinador será genial o bastante para colocar um atacante no gol e um goleiro armando o meio-campo.
Talvez esteja aí a razão do assanhamento na mídia especializada em política. O sujeito pode ir para o gol ou para a ponta-de-lança. E tem mais: o treinador não pode inventar uma posição, tem de ficar nos 11 regulamentares com os respectivos reservas.
Já o presidente escala um time elástico. Conforme os compromissos que assumiu com Deus e o diabo, pode botar em campo 20, 30 ministros. E inventar até um Ministério de Coisa Nenhuma, para garantir mais apoio ou menos trabalho.



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