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Evoé para o ministério
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Antes que algum desavisado me cobre, não custa dar a
minha opinião sobre o ministério que
dolorosamente veio à luz às vésperas
do Natal, mais um presente aos interessados do que à nação.
Minha opinião é simples: não tenho
opinião alguma a respeito dele. Num
regime presidencialista como o nosso,
em que o presidente cuida não apenas
da coisa pública, que é a república,
mas de todas as coisas, públicas ou
não, o ministério é um penduricalho
resultante de acordos que nada têm a
ver com o que deveria se esperar de
uma equipe operacional.
Os ministros são nomeados por isso
ou aquilo, porque contentam a fulano,
porque perderam a eleição e ficaram
sem emprego, porque ajudaram na
campanha. Há até ministros que, se
forem severamente perguntados, nem
saberão responder por que são ministros disso ou daquilo. São polivalentes,
podem cuidar dos recursos hídricos,
da administração, das relações exteriores ou das relações interiores.
Uma das coisas que sempre admirei
nos colunistas políticos é a excitação
da turma toda vez que se arma um ministério. Nem mesmo quando há Copa
do Mundo e todos aguardam a nova
seleção há tanto e tamanho gáudio
entre os cronistas esportivos.
Bem, numa seleção sempre há pé
com cabeça. Nenhum treinador será
genial o bastante para colocar um atacante no gol e um goleiro armando o
meio-campo.
Talvez esteja aí a razão do assanhamento na mídia especializada em política. O sujeito pode ir para o gol ou
para a ponta-de-lança. E tem mais: o
treinador não pode inventar uma posição, tem de ficar nos 11 regulamentares com os respectivos reservas.
Já o presidente escala um time elástico. Conforme os compromissos que assumiu com Deus e o diabo, pode botar
em campo 20, 30 ministros. E inventar
até um Ministério de Coisa Nenhuma,
para garantir mais apoio ou menos
trabalho.
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