São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PAINEL DO LEITOR

Unesp em São Paulo
"A Folha deu em primeira mão uma boa notícia: Unesp e BNDES, juntos, fazem brotar novo campus na Barra Funda ("Unesp vai abrir campus na Barra Funda", Cotidiano, 27/1). É prova cabal de que, quando a necessidade do povo fala mais alto, os políticos podem, sim, superar suas vaidades e atuar em conjunto nos vários níveis de governo. Para uma região metropolitana com cerca de 18 milhões de habitantes, a oferta anual de vagas no ensino superior público não chega a 20.000, menos de 10% do total de vagas oferecidas em toda a região no ensino superior. Temos dois modos de interpretar a novidade: um agradinho em ano eleitoral ou uma opção de política pública de um país preocupado de fato com a "seleção brasileira" dos desassistidos, dos sem-universidade. Para o MSU, só faz sentido a segunda opção. Só com ela é que a sociedade pode acreditar que a coisa não vai ficar só em 200 vagas, mas servirá de exemplo, que ali teremos um sistema de acesso diferente, que a periferia, os pobres, os negros, os que vêm de escola pública vão poder estudar ali."
Sérgio José Custódio, membro da coordenação nacional do Movimento dos Sem Universidade -MSU (São Paulo, SP)

São Paulo
"Li muitos relatos, vi muitas declarações, acompanhei muitos acontecimentos sobre São Paulo, mas ainda não havia visto nem lido simples palavras portuguesas tão bem combinadas como fez Tom Zé em seu "450: comemoração em plástico" ("Tendências/Debates", 27/1). Fico encantada com o olhar desse homem: onde muitos poderiam ver desgraças e horror, ele vê poesia. Definitivamente, com "São São Paulo, Meu Amor" e por meio de Tom Zé, todos nós paulistanos podemos nos sentir acarinhados e homenageados no tom certo."
Monica Dinah Martins (São Paulo, SP)

É preciso coragem para assumir
"No dia 18/1, nesta seção, o secretário da Segurança de São Paulo citou meu nome ao comentar artigo de Elio Gaspari. Sem entrar na discussão sobre se o garçom Valdinei foi torturado ou não -por não ter elementos para fazer uma apreciação sobre o assunto-, afirmo que jamais defendi ou pratiquei, em toda a minha vida e nos meus 35 anos de serviço, esse processo de obtenção de confissão. Quanto à nomeação do doutor Laerte Calandra para a chefia do novo Departamento de Inteligência, nada posso dizer por ser tal nomeação de exclusiva responsabilidade do secretário. Mas conheço os fatos sobre a operação Castelinho e sei muito bem que minha exoneração do comando da PM nada teve a ver com aquela operação -exceto pelo impasse criado logo após a operação quando determinei a ida de todos os PMs que haviam se utilizado de suas armas para o Programa de Acompanhamento e Apoio em Ocorrências de Alto Risco (Proar). Sei muito bem que a minha defesa do Proar pesou consideravelmente na minha exoneração, mas era a atitude que eu deveria assumir, e assim procedi, na defesa de minhas convicções. Assim, achei no mínimo estranhas as colocações do doutor Saulo. A operação Castelinho só foi realizada porque contou com a sua autorização -até porque eu havia passado com antecedência todas as informações de que dispunha ao seu secretário-adjunto e também a ele próprio para que fosse tomada a decisão final. Também o fato de haver afirmado em sua carta que "não tenho compromisso com o erro nem com a ilegalidade", logo após haver citado o meu nome, pode levar à interpretação de que eu teria agido na ilegalidade e de que teria sido esse o motivo de minha exoneração do cargo. Refuto tal colocação e guardo comigo uma correspondência do governador Geraldo Alckmin em que o verdadeiro motivo de minha exoneração é ali expresso. Por fim, como ex-comandante-geral da PM, lamento a colocação feita pelo secretário sobre os policiais de São Paulo ao afirmar que "130 mil homens e mulheres que às vezes erram, mas, na maioria das vezes, saem às ruas para acertar e defender a população", subentendendo que muitas vezes saem para errar. Quero afirmar que os policiais que comandei "sempre" saíram para "acertar". Eventuais erros são até explicáveis pela própria natureza humana, mas jamais contaram com a complacência do comando. Sei que o momento é político, com eleições municipais marcadas, disputas partidárias e disputas por indicação de candidatos. Mas é nessas horas que é necessário mostrar-se inteiramente, mostrar quem verdadeiramente se é. Voltemos ao título desta carta"
Rui César Melo, coronel da reserva da Polícia Militar, ex-comandante-geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

Semitismo, sionismo, judaísmo
"Na falta de idéias e de fatos a contrapor aos citados no meu texto de 23/1, o sr. Mateus Soares de Azevedo optou por descer ao insulto pessoal em carta aqui publicada. Minhas críticas derivariam da "arrogância da pouca idade", da "desonestidade intelectual" e da "má-fé". Poupo o leitor de semelhante deselegância. O missivista diz que ignorei seus elogios ao judaísmo. É verdade. Não me preocupa se o sr. Azevedo gosta ou não de judeus ou do judaísmo ou se tem ou não amigos judeus, o que me preocupa são suas idéias, que merecem retoque. Não distorci seus escritos -até citei passagens de seu texto ao dar a resposta. Disse o autor no seu texto que o antijudaísmo é compreensível. Em sua carta chama-o de "natural". Volto a afirmar que a oposição a qualquer grupo étnico ou religioso não é nem "natural" nem "compreensível". É uma manifestação de preconceito que merece ser varrida da história. Afinal, a Inquisição espanhola, por exemplo, sofria do antijudaísmo, que o autor acha "natural", e não do anti-semitismo racial ("inaceitável'). Para os judeus queimados vivos, a distinção não faria muita diferença. A maior parte do meu texto combatia a idéia de que o anti-sionismo fosse "legítimo" ao mostrar que o autor confundira Estado com governo. Sobre isso, sua carta cala. A única resposta dada foi à questão do suposto elemento anticristão e antiislâmico do judaísmo. Causou-me espanto tal assertiva, já que, entre outras razões, o judaísmo precede as outras religiões. Ao dizer que "a anterioridade histórica de uma tradição não implica que suas autoridades religiosas não possam se manifestar, a posteriori, sobre religiões mais recentes", o missivista deveria embasar-se em mais do que o simplesmente hipotético ao fazer acusações ofensivas a todo um povo. Mesmo que essa hipótese estivesse correta, não provaria nada além do repetido erro grosseiro de imputar a uma coletividade posições pessoais. Terminava o sr. Azevedo a sua epístola dizendo que, "felizmente, a tradição judaica já teve defensores intelectualmente mais preparados e honestos". Ao que vale rebater: infelizmente, a tradição do antijudaísmo já teve defensores mais competentes e, felizmente, a tradição judaica não precisa de defensores, pois mantém-se viva há milênios por seus próprios méritos. O que precisa de vigilância é a tradição ocidental de rechaçar preconceitos e promover a harmonia entre os membros da família humana. Malgrado seus opositores e suas supostas boas intenções, um dia ainda chegaremos lá."
Gustavo Ioschpe (São Paulo, SP)

Texto Anterior: Carlos de Meira Mattos: Civilizações em confronto
Próximo Texto: Erramos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.