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Pouca energia
PAC mantém incerteza no setor elétrico por contar com projetos duvidosos e é tímido no campo das fontes alternativas
O PROGRAMA DE Aceleração do Crescimento
(PAC) disseminou muitas dúvidas e algumas respostas sobre o setor de
energia elétrica, fundamental
para o desenvolvimento econômico. Se não chegou a causar decepção profunda, tampouco emitiu sinal claro de que esse insumo decisivo estará garantido
na medida necessária para que as
intenções se realizem.
Dos R$ 503,9 bilhões de investimentos previstos no plano, entre 2007 e 2010, R$ 78,4 bilhões
se destinariam à área de energia
elétrica. Desse subtotal, R$ 65,9
bilhões iriam para geração e R$
12,5 bilhões para transmissão. A
meta é acrescentar 12.386 MW
(megawatts) aos 100 mil MW
atuais e 13.826 km de linhas aos
194 mil km da malha existente.
O pacote concentra as medidas
na desoneração tributária de
obras e equipamentos e na facilitação do financiamento, de modo a aumentar a rentabilidade de
novos projetos. A Empresa de
Pesquisa Energética (EPE), do
Ministério de Minas e Energia
(MME), prevê redução de 10% a
18% no custo de geração de novas usinas. Subsiste algum ceticismo, porém, quanto a tais providências serem suficientes para
atrair dinheiro privado em ritmo
e montante adequados para
cumprir metas de expansão.
Para crescer a taxas próximas
de 5%, o país precisará aumentar
em pelo menos 5,1% ao ano a
oferta de eletricidade, segundo
projeções da EPE. Seu Plano Decenal 2006-2015, anterior ao
PAC, projetava taxas de crescimento do PIB na faixa de 4% a
4,5%, até 2011, no cenário mais
otimista. Diante dos objetivos do
PAC, a EPE estima uma demanda adicional de 1.000 MW.
Há mais incertezas, no entanto. A construção da usina nuclear
Angra 3, incluída no Plano Decenal, ficou fora do anúncio do
PAC. Consta, por outro lado, de
um anexo do PAC noticiado ontem por esta Folha, com operação prevista para agosto de 2013.
Por ser uma forma de geração
controversa, o governo fica devendo uma definição mais clara
de suas intenções a respeito.
Permanecem dúvidas também
sobre a entrada em operação,
nas datas fixadas, de várias usinas hidrelétricas relacionadas
no PAC. O exemplo mais citado é
Belo Monte, com potência de
5.681 MW em sua primeira fase.
O programa conta com seu licenciamento ambiental prévio
em dezembro de 2008, mas esse
desfecho é imprevisível, diante
das sucessivas barreiras judiciais
que o empreendimento enfrenta
desde 2001.
Por fim, o pacote de Lula peca
pela ausência de um programa
vigoroso para incentivar formas
alternativas de geração, como
pequenas centrais hidrelétricas
(PCHs), usinas eólicas e de aproveitamento de biomassa. O
MME prevê meia centena de
PCHs, outro tanto de eólicas e
apenas oito projetos de co-geração a biomassa, metas que podem ser consideradas tímidas.
No detalhamento do período
2007-2010 constante do anexo
já citado, contudo, aparecem somente seis PCHs e não há menção a eólicas nem a biomassa.
É pouco para um plano que
pretendia engrenar a economia
brasileira no ritmo do século 21.
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