São Paulo, segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

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VALDO CRUZ

Imprevidência e incerteza

BRASÍLIA - Caro leitor, prepare o seu estômago para fortes emoções. De novo, o mercado financeiro pode começar a semana embarcando numa montanha russa. Mais balanços de bancos vão sair, novos buracos podem ser expostos à luz do dia, quem sabe em solo europeu, e o sobe-desce pode voltar.
Tudo isso me faz recordar uma conversa no início de novembro do ano passado, no cafezinho do Senado. Um deputado peemedebista, empresário, com excelentes fontes no mercado, puxou-me pelo braço e perguntou: "Está tudo calmo?".
Respondi que sim, que o governo Lula tinha sorte porque o cenário mundial havia melhorado. O deputado me interrompeu e relatou o teor de conversas reservadas que tivera com gente do mercado.
Sem revelar suas fontes, muito provavelmente de fora do país, ele disse que tempestades estavam se formando e provocariam muitas perdas no início de 2008. Disse a ele que algo era esperado. Ele cortou mais uma vez: "É pior, muito pior do que todos imaginam".
Cenário confirmado, fico imaginando por que o mundo financeiro sabia do desastre mas esperou ele acontecer para recolher os cacos. Do lado dos bancos, é até explicável. Ninguém queria expor suas fragilidades antes da hora.
Mas, do lado dos governos, soa incompreensível. Se um deputado bem informado no Brasil sabia do tamanho da encrenca, difícil imaginar que um Fed da vida, o banco central americano, não soubesse.
Claro que as coisas no mundo financeiro não são tão simples. Tudo bem. Mas fica cada vez mais claro que o filme se repete crise após crise. Governos e bancos centrais assistem à farra do mercado, deixam a roleta russa financeira rolar solta e depois correm atrás do prejuízo.
Taí a prova de que não é apenas por aqui que reforçam a tranca da porta apenas depois de arrebentada. Sem falar que há, aqui e lá, quem tape os olhos para deixar os amigos lucrarem facilmente. Nessa loteria, caro leitor, a gente só perde.


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