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VALDO CRUZ
Imprevidência e incerteza
BRASÍLIA - Caro leitor, prepare o
seu estômago para fortes emoções.
De novo, o mercado financeiro pode começar a semana embarcando
numa montanha russa. Mais balanços de bancos vão sair, novos buracos podem ser expostos à luz do dia,
quem sabe em solo europeu, e o sobe-desce pode voltar.
Tudo isso me faz recordar uma
conversa no início de novembro do
ano passado, no cafezinho do Senado. Um deputado peemedebista,
empresário, com excelentes fontes
no mercado, puxou-me pelo braço e
perguntou: "Está tudo calmo?".
Respondi que sim, que o governo
Lula tinha sorte porque o cenário
mundial havia melhorado. O deputado me interrompeu e relatou o
teor de conversas reservadas que tivera com gente do mercado.
Sem revelar suas fontes, muito
provavelmente de fora do país, ele
disse que tempestades estavam se
formando e provocariam muitas
perdas no início de 2008. Disse a ele
que algo era esperado. Ele cortou
mais uma vez: "É pior, muito pior
do que todos imaginam".
Cenário confirmado, fico imaginando por que o mundo financeiro
sabia do desastre mas esperou ele
acontecer para recolher os cacos.
Do lado dos bancos, é até explicável.
Ninguém queria expor suas fragilidades antes da hora.
Mas, do lado dos governos, soa incompreensível. Se um deputado
bem informado no Brasil sabia do
tamanho da encrenca, difícil imaginar que um Fed da vida, o banco
central americano, não soubesse.
Claro que as coisas no mundo financeiro não são tão simples. Tudo
bem. Mas fica cada vez mais claro
que o filme se repete crise após crise. Governos e bancos centrais assistem à farra do mercado, deixam a
roleta russa financeira rolar solta e
depois correm atrás do prejuízo.
Taí a prova de que não é apenas
por aqui que reforçam a tranca da
porta apenas depois de arrebentada. Sem falar que há, aqui e lá, quem
tape os olhos para deixar os amigos
lucrarem facilmente. Nessa loteria,
caro leitor, a gente só perde.
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