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RUY CASTRO
O mundo roda
RIO DE JANEIRO - No Brasil é assim. Um festival de jazz, que, por
menos jazz que ofereça, é um evento quase que só para adultos, não
pode ser patrocinado por uma marca de cigarros -no caso, o Free Jazz
e os cigarros idem. Mas uma roda
gigante, como a armada no Forte de
Copacabana, aqui no Rio, de apelo
basicamente infantil e adolescente,
pode ser patrocinada por uma marca de cerveja.
Foi louvável o esforço do então
ministro da Saúde, o hoje governador José Serra, de tentar proteger
os fãs de jazz -pessoas por tradição
marginais, boêmias, não conformistas- dos terríveis males dos cigarros Free. Lembro-me de que vários desses jazzistas apoiaram com
entusiasmo a medida de Serra, enquanto acendiam seus baseados na
platéia do ex-Free Jazz carioca.
Claro que a censura antitabagista
não visou apenas a um simples festival de jazz, mas à propaganda de
cigarros como um todo, nos rádios,
TVs, outdoors e, até hoje, onde a
vista consiga alcançar. Igual medida, no entanto, ainda não foi tomada quanto à cerveja entre as bebidas
alcoólicas.
Nesse governo farto em medidas
provisórias, soou estranho que o
presidente Lula preferisse mandar
sua recente "restrição" à propaganda de cervejas na forma de um tíbio
projeto de lei. Significa que, como
terá agora de ser votada pelo Congresso, essa restrição será chutada
para as calendas. E que Zeca Pagodinho pode aspirar ao cargo do ministro Temporão.
De duas semanas para cá, as
crianças cariocas, expostas aos
enormes outdoors da cerveja -digo, da roda gigante- espalhados pela cidade, ficam autorizadas a acreditar que há uma relação mágica
entre a beberagem que desce redondo e a visão da praia mais bonita
do mundo numa gôndola a 36 m de
altura. Ambos, a cerveja e a roda,
deixam a criança alta.
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