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ALBA ZALUAR
Ser pobre
não é desculpa
UM DOS NÓS na discussão sobre violência e criminalidade no Brasil está na correlação entre pobreza e criminalidade que divide a opinião de estudiosos
e militantes. De um lado, os que tomam algumas estatísticas oficiais,
fruto do registro policial, como
provas de que o problema são os favelados, migrantes e desempregados pobres. Do outro, aqueles que
consideram que ser pobre é desculpa para tudo, inclusive para o homicídio. Tanto um quanto outro
estão equivocados.
O registro policial depende de
muitas práticas policiais que sempre deram preferência aos pobres
neste país, deixando impunes as
pessoas de maiores escolaridade e
nível de renda quando infringem a
lei. Daí falar-se de profecia autocumprida as estatísticas que mostram apenas crimes cometidos por
pessoas pobres. Crimes econômicos e de mandantes só muito recentemente passaram a merecer
atenção da polícia, especialmente a
federal.
Entretanto, ser pobre não é razão para cometer crimes. Há tempos discute-se a punição dos que
cometem crimes graves com o argumento de que não tiveram oportunidades ou alternativas. Para atividades econômicas ilegais, esse
argumento encontra respaldo bastante difundido na população também. Mas nunca para os crimes
contra a pessoa, especialmente estupro e assassinato.
Porém há entre militantes de esquerda a propensão para querer as
mais severas punições para jovens
de classe média que participam de
atividade econômica ilegal e o esquecimento ou perdão para os jovens pobres que cometem crimes
contra a pessoa, mesmo os mais
condenados pela população.
O filme "Meu Nome Não É
Johnny" conta a história de um
desses jovens de classe média que,
sem nem saber como e por que, vão
se envolvendo na atividade do tráfico. A história contada é de um daqueles que conseguem manterem-se free-lance sem participar da violência de quadrilhas e comandos. É
um filme emocionante e convincente. Pode ajudar outros jovens a
evitar as armadilhas do dinheiro
fácil e consumo orgiástico pelos limites da lei e da moralidade.
A cena mais comovente é a que
narra a compreensão da juíza sobre a trajetória do jovem e a sua capacidade de recuperação. Os anos
de cadeia e de manicômio judiciário são de sofrimento atroz e parecem estar na medida para minar a
inconseqüência do jovem.
Só que militantes que defendem
o direito do pobre menor assassino
ficar livre aos 18 anos preparam um
manifesto para criticar essa sentença "leve" que atribuem à família
do jovem, à qual pertence famoso
advogado defensor dos direitos civis durante o regime militar.
ALBA ZALUAR
escreve às segundas-feiras nesta coluna.
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