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Sinais conflitantes
Barreiras genéricas contra importações, como implantadas pelo governo, são nocivas ao conjunto da economia
SE A atividade econômica
no Brasil baixou bruscamente de patamar nos últimos meses, uma nova
safra de dados conflitantes mais
confunde que esclarece a elucidação de uma dúvida crucial: até
quando a situação vai piorar.
Surgiu, enfim, uma notícia animadora pelo lado do crédito. Mas
um decepcionante saldo no comércio externo fez disparar mais
um alarme de perigo.
Depois da queda drástica em
outubro e novembro, as concessões de empréstimo reagiram no
mês passado -alta de 16,8% para
pessoas jurídicas e de 8,1% para
pessoas físicas.
Em algumas modalidades, registrou-se modesta redução nos
juros ao cliente. Nada que ameace, obviamente, seus níveis escorchantes: na média, uma firma
que tome emprestados R$ 10 mil
para girar seus negócios tem de
devolver ao banco quase R$ 14
mil um ano depois. Além disso, a
margem de ganho dos bancos
nos empréstimos voltou a subir.
Outro indicador positivo veio
das vendas de veículos novos. A
recuperação de dezembro, na esteira da redução de impostos
promovida pelo governo, continuou no início de janeiro. A primeira quinzena deste mês registrou aumento de 6,5% sobre o
mesmo período de dezembro.
Por outro lado, as contas externas revelaram significativa e surpreendente deterioração. Já se
sabia da forte ampliação da diferença entre as saídas e as entradas de dólares no país. O saldo
das chamadas transações correntes fechou 2008 em déficit de
US$ 28,3 bilhões -inversão
brusca em relação ao superávit
de US$ 1,5 bilhão em 2007.
A desagradável novidade tem
sido exposta pelas contas parciais do comércio exterior de janeiro. Até domingo passado, as
importações superaram as exportações em US$ 645 milhões
-um déficit inesperado numa
atividade crucial para que o país
possa enfrentar o período de recessão global.
O governo federal parece atordoado com o resultado -ao menos reagiu como se estivesse. Introduziu de chofre uma série de
barreiras não-tarifárias contra o
ingresso de bens importados.
Uma lista de produtos, que
abrange 60% das importações,
ficou sujeita à apresentação de licença prévia da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).
Não é por aí que se vai vencer
essa batalha. Uma barreira generalizada a importações tem tantos efeitos nocivos que deveria
ser rejeitada. Faz sentido que o
Brasil redobre a sua agressividade contra exportadores que,
muitas vezes financiados por governos, praticam concorrência
desleal e vendem produtos a preços artificialmente baixos.
Mas a defesa comercial, além
de contundente, precisa ser focalizada -estudada e implantada
caso a caso. Se não for assim, a
prática vai prejudicar injustamente setores que, no Brasil, se
beneficiam das importações. Vai
prejudicar, em última instância,
a própria competitividade da
economia brasileira, o controle
da inflação e, desse modo, a perspectiva de redução histórica da
taxa básica de juros que, por conta desta crise, já se descortina.
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