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CLÓVIS ROSSI
A crise, o vinho, o helicóptero
DAVOS - Diz pesquisa divulgada
ontem pela consultoria PricewaterhouseCoopers que o empresariado
ligou o "modo de sobrevivência",
que é tudo o que lhes permitiria a
crise.
Detalhes do "modo de sobrevivência" do "povo de Davos": a agência Bloomberg conta que o gerente
do Hotel Belvédère, o único cinco
estrelas de Davos (e cada uma delas
vale por cinco), encomendou para a
temporada um lote de vinho Chateau Petrus premier cru, safra 1971.
Cada garrafa custa US$ 1.700, ou
um tiquinho menos de R$ 4 mil.
Com esse dinheiro daria para
sustentar por um mês dez trabalhadores de salário mínimo (brasileiro). Reduziria um tico a sangria de
76 mil demitidos só anteontem.
Já o gerente da BB Heli, que faz o
serviço de helicópteros entre Zurique e Davos, conta que o "modo de
sobrevivência" não impede que
continuem a ser feitas reservas em
penca para que a turma possa percorrer rapidamente a colossal distância de 147 quilômetros entre Zurique e Davos.
O custo, nesse caso, é bem maior
do que o Chateau Petrus: no helicóptero mais potente e, portanto,
mais caro, o serviço sai pelo equivalente a R$ 19.869.
Para uma comparação que o "povo de Davos" entende: é rigorosamente o mesmo custo de uma passagem da Swiss entre São Paulo e
Zurique (primeira classe, claro, que
a "sobrevivência" tem que ter um
mínimo de dignidade).
Para uma comparação que eu e
você (se não for do tipo Davos) entendemos: a passagem de trem de
Zurique a Davos saiu pelo equivalente a R$ 173 (de primeira classe,
que eu também mereço uma sobrevivência digna), menos de 1% do
preço do helicóptero.
Fico me perguntando se esse pessoal se preocupa, um pouquinho
que seja, com o "modo de sobrevivência" dos demitidos pela crise. O
que você acha? Aviso prévio: palavrão não entra neste espaço.
crossi@uol.com.br
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