São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

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RUY CASTRO

Pequenos delitos

RIO DE JANEIRO - O carioca parece encantado com o "choque de ordem" que Eduardo Paes prometeu em campanha e está cumprindo como prefeito. Carros estacionados em lugar proibido são rebocados; construções irregulares, demolidas; outdoors em área ilegal, arrancados. Flanelinhas, ambulantes, camelôs, catadores de lixo, falsos mendigos e crianças de sinal, ou se enquadram ou dançam. Pela primeira vez em anos, sente-se a presença do poder público.
Claro que não faltam os espíritos de porco para reduzir esse esforço a uma simples toalete. E os pessimistas crônicos ignoram o presente e só querem saber do que estará acontecendo daqui a um ano, sob a alegação de que, "no começo", todo prefeito gosta de mostrar serviço. Mas não é bem assim. O prefeito anterior, Cesar Maia, teve várias reeleições para fazer isto e preferiu dar as costas à cidade.
Diante de reportagens sobre mazelas localizadas da cidade, Cesar dizia que se recusava a "ser pautado pelos jornais". Com isso, recusava-se também a ser pautado pelo bom senso. Que governante pode dispensar a imprensa como filtro do que a população está querendo dizer? Com o novo prefeito, até agora, a imprensa apita; ele confere e, se possível, resolve; se não, dá uma satisfação. A população percebe isto e se sente cuidada.
Mas é difícil mudar as pintas do leopardo. Um homem pedala sua bicicleta pela calçada, ignorando a ciclovia vazia ao seu lado. Ao ser educadamente interpelado por um policial, diz que o guarda não deveria estar ali, perdendo tempo com ele, mas "prendendo os bandidos". Outro, revoltado com a perseguição aos camelôs, argumenta que "é melhor o sujeito estar vendendo produto ilegal do que roubando".
Os dois estão errados. O grande delito começa pelo pequeno delito. A solução deles também.


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