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RUY CASTRO
Pequenos delitos
RIO DE JANEIRO - O carioca parece encantado com o "choque de
ordem" que Eduardo Paes prometeu em campanha e está cumprindo
como prefeito. Carros estacionados
em lugar proibido são rebocados;
construções irregulares, demolidas; outdoors em área ilegal, arrancados. Flanelinhas, ambulantes, camelôs, catadores de lixo, falsos
mendigos e crianças de sinal, ou se
enquadram ou dançam. Pela primeira vez em anos, sente-se a presença do poder público.
Claro que não faltam os espíritos
de porco para reduzir esse esforço a
uma simples toalete. E os pessimistas crônicos ignoram o presente e
só querem saber do que estará
acontecendo daqui a um ano, sob a
alegação de que, "no começo", todo
prefeito gosta de mostrar serviço.
Mas não é bem assim. O prefeito
anterior, Cesar Maia, teve várias
reeleições para fazer isto e preferiu
dar as costas à cidade.
Diante de reportagens sobre mazelas localizadas da cidade, Cesar
dizia que se recusava a "ser pautado
pelos jornais". Com isso, recusava-se também a ser pautado pelo bom
senso. Que governante pode dispensar a imprensa como filtro do
que a população está querendo dizer? Com o novo prefeito, até agora,
a imprensa apita; ele confere e, se
possível, resolve; se não, dá uma satisfação. A população percebe isto e
se sente cuidada.
Mas é difícil mudar as pintas do
leopardo. Um homem pedala sua
bicicleta pela calçada, ignorando a
ciclovia vazia ao seu lado. Ao ser
educadamente interpelado por um
policial, diz que o guarda não deveria estar ali, perdendo tempo com
ele, mas "prendendo os bandidos".
Outro, revoltado com a perseguição
aos camelôs, argumenta que "é melhor o sujeito estar vendendo produto ilegal do que roubando".
Os dois estão errados. O grande
delito começa pelo pequeno delito.
A solução deles também.
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