São Paulo, quinta, 28 de janeiro de 1999

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BC ERRÁTICO

Depois de esperar que a reafirmação do compromisso com a flutuação do câmbio acalmasse os mercados, o Banco Central novamente reviu sua conduta. Ontem, promoveu mais uma elevação da taxa de juros.
Os sinais emitidos indicam uma disposição do BC em continuar, se necessário, elevando os juros nos próximos dias, até atingir o teto da banda de juros, de 41%, e talvez até ultrapassá-lo. Nos mercados futuros, há projeções de juros de 51% ao ano nos contratos para março.
Há três dúvidas que as ações do BC parecem incapazes de dissipar.
A primeira diz respeito à própria condução da política de juros. A lógica de elevar as taxas é aparentemente simples. Em tese, quanto maiores os juros, maior o incentivo aos bancos e aos exportadores para que tragam dólares ao país. Assim, aumentaria a oferta de moeda estrangeira, reduzindo ou mesmo eliminando a pressão contra o real.
Alguns operadores do mercado, entretanto, contestam esse roteiro. Admitem que, se o dólar continua ganhando valor a cada dia e tanto bancos quanto exportadores acreditam que podem levar o BC a elevar ainda mais os juros, devem preferir adiar a conversão de dólares.
Há outra dúvida, de ordem mais geral. Em episódios recentes de crise cambial, a tentativa de evitar o desastre elevando cada vez mais os juros não só se mostrou ineficaz (com efeito oposto ao desejado) como, no limite, aumentou o risco de tornar insuportáveis os custos de financiamento da dívida pública. Tais juros são uma tentativa de cura que só pode ser utilizada por pouco tempo.
Finalmente, há insegurança com o caráter errático das ações do BC, que comete falhas inadmissíveis, tais como errar na divulgação de dados cruciais relativos ao mercado de câmbio, como ocorreu há dois dias. Também ora há banda, ora não há; ora parece que os juros vão ficar altos, mas estáveis, ora o BC insinua a sua elevação. As idas e vindas deveriam em tese criar volatilidade, derrubando os especuladores. Mas, até agora, passam a sensação de que as autoridades estão tateando sem conseguir definir com clareza um caminho.



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