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PACTO SEM CONFIANÇA
Fica difícil acreditar num pacto
quando seu possível mediador, o governo federal, não transmite à sociedade a percepção de coesão interna.
Afinal, é uma iniciativa que só prospera se o seu principal agente tiver
força e inspirar confiança.
A proposta de um pacto antiinflacionário e pela manutenção de empregos, costurada no último
fim-de-semana e lançada em duas
frentes pelos ministros do Desenvolvimento, Celso Lafer, e das Comunicações, Pimenta da Veiga, é séria demais para ter um início de tal forma
duvidoso. Teria sido melhor partir
para um projeto dessa envergadura
com um discurso homogêneo.
O fato é que o ministro Pedro Malan, responsável pela atual política
econômica, reagiu de forma um tanto lacônica e esquiva ao comentar a
reunião do seu colega Celso Lafer
com representantes de 27 federações
estaduais de indústrias, anteontem.
Horas depois do encontro, Malan
disse em público não ter recebido
"ainda nenhum texto que dissesse
com clareza o que é esse pacto".
Uma maneira eufemística, como é
de seu feitio, de manifestar distanciamento em relação a iniciativas
contra a inflação ainda não concretamente formuladas. Os próprios empresários saíram da reunião com Lafer desapontados. Esperavam alguma contrapartida concreta por parte
do governo para aliviar o impacto da
desvalorização, mas ouviram apenas
que os juros deverão ser reduzidos
"num prazo não muito longo".
Somam-se a isso as reações de líderes do PFL e do PMDB, duvidando
abertamente da viabilidade da proposta de Pimenta da Veiga, segundo
a qual BNDES, CEF e Banco do Brasil
emprestariam recursos à iniciativa
privada para aliviar, ao menos em
parte, os efeitos da recessão.
Falta, numa palavra, confiança nas
atitudes do Executivo -dentro do
próprio governo, na sua base aliada e
no conjunto da sociedade. Sem o cimento básico da confiança, o pacto,
em tese positivo e necessário, pode
ser apenas um instrumento retórico
para camuflar a desagregação acelerada da atual política econômica.
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