São Paulo, quinta, 28 de janeiro de 1999

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PACTO SEM CONFIANÇA

Fica difícil acreditar num pacto quando seu possível mediador, o governo federal, não transmite à sociedade a percepção de coesão interna. Afinal, é uma iniciativa que só prospera se o seu principal agente tiver força e inspirar confiança.
A proposta de um pacto antiinflacionário e pela manutenção de empregos, costurada no último fim-de-semana e lançada em duas frentes pelos ministros do Desenvolvimento, Celso Lafer, e das Comunicações, Pimenta da Veiga, é séria demais para ter um início de tal forma duvidoso. Teria sido melhor partir para um projeto dessa envergadura com um discurso homogêneo.
O fato é que o ministro Pedro Malan, responsável pela atual política econômica, reagiu de forma um tanto lacônica e esquiva ao comentar a reunião do seu colega Celso Lafer com representantes de 27 federações estaduais de indústrias, anteontem. Horas depois do encontro, Malan disse em público não ter recebido "ainda nenhum texto que dissesse com clareza o que é esse pacto".
Uma maneira eufemística, como é de seu feitio, de manifestar distanciamento em relação a iniciativas contra a inflação ainda não concretamente formuladas. Os próprios empresários saíram da reunião com Lafer desapontados. Esperavam alguma contrapartida concreta por parte do governo para aliviar o impacto da desvalorização, mas ouviram apenas que os juros deverão ser reduzidos "num prazo não muito longo".
Somam-se a isso as reações de líderes do PFL e do PMDB, duvidando abertamente da viabilidade da proposta de Pimenta da Veiga, segundo a qual BNDES, CEF e Banco do Brasil emprestariam recursos à iniciativa privada para aliviar, ao menos em parte, os efeitos da recessão.
Falta, numa palavra, confiança nas atitudes do Executivo -dentro do próprio governo, na sua base aliada e no conjunto da sociedade. Sem o cimento básico da confiança, o pacto, em tese positivo e necessário, pode ser apenas um instrumento retórico para camuflar a desagregação acelerada da atual política econômica.



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