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Alô, alô, histéricos
CLÓVIS ROSSI
Davos - Se esta Folha tivesse proposto, no editorial de domingo, o fuzilamento sumário do presidente Fernando Henrique Cardoso e de todos os
seus ministros, não teria provocado
reações tão histéricas como as puxadas pela defesa do controle cambial.
Reação pavloviana, aliás. Porque intervenções do gênero fracassaram no
passado descarta-se agora qualquer
intervencionismo, sem levar em conta
que o mundo mudou (um argumento,
aliás, sempre sacado da algibeira
quando se trata de justificar guinadas
da esquerda para a direita).
O Banco Mundial, que está longe de
ser influenciado por economistas do
PT, acaba de divulgar estudo em que
admite, claro que a contragosto, a hipótese de controle do fluxo de capitais,
obviamente por tempo moderado e como último recurso.
Nada diferente, pois, do que a Folha
propôs domingo. O raciocínio de um
dos técnicos do banco, Uri Dadush,
olha para o presente e não para o passado. Lembra que:
1 - Aumentou brutalmente o fluxo de
capitais para os países em desenvolvimento. De 90 para 96, foi de US$ 42
bilhões para US$ 250 bilhões.
2 - O setor privado assumiu, nas
duas pontas do fluxo, o papel preponderante, substituindo os governos e as
instituições multilaterais, antes as
fontes principais.
É óbvio que nem a economia nem as
instituições desses países estavam totalmente preparadas para lidar com a
invasão. E, claro, menos ainda prontas para evitar a fuga em massa que
ocorre a qualquer pretexto.
Intervir é, portanto, mais que uma
opção, uma obrigação de qualquer governo que se preze.
Aliás, é curioso que não tenha havido histeria idêntica quando, em outubro, o presidente Fernando Henrique
Cardoso defendeu, em discurso na Cúpula Ibero-Americana do Porto, a taxação dos capitais que cruzam fronteiras diariamente.
Taxar capitais é também impor limites e, no caso, limites que doem na
parte mais sensível, o bolso.
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