São Paulo, quinta, 28 de janeiro de 1999

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BOMBA PAULISTANA

Um dos efeitos automáticos da recessão é a queda da arrecadação de tributos. O cenário vale para toda e qualquer administração pública. Mas a situação financeira da Prefeitura de São Paulo tem sua gravidade amplificada por uma dívida -R$ 11 bilhões- que já seria crítica mesmo em períodos de normalidade e crescimento econômico.
Conforme a Folha noticiou ontem, somente com relação ao Banco do Brasil os cofres municipais paulistanos já deixaram de pagar R$ 250 milhões em créditos vencidos. Há ainda nada menos que R$ 3,5 bilhões vencendo até o final do ano.
O atual prefeito, Celso Pitta, poderia argumentar que foi vítima dos juros elevados, que aumentaram igualmente o endividamento da União, dos Estados e de outros municípios.
O problema, no entanto, está em primeiro lugar na ordem de grandeza. A prefeitura movimenta mais dinheiro que grande parte dos Estados. Endividou-se mais, e sua inadimplência tem efeitos proporcionalmente mais nefastos sobre as instituições ameaçadas pelos chamados créditos em liquidação, que são os de recebimento duvidoso. Há, igualmente, um efeito de contaminação que atinge o esforço de devolver, pelo equilíbrio fiscal, um mínimo de credibilidade à economia brasileira.
Esse quadro desalentador tem causa, história e autores conhecidos. A administração anterior, de Paulo Maluf, foi responsável por obras megalomaníacas, realizadas em ritmo insustentável e com fins eleitorais. A operação, da qual se beneficiou e pela qual foi co-responsável o então secretário das Finanças da cidade, Celso Pitta, contrariou, de maneira frontal, o elementar princípio do equilíbrio das contas públicas
O comportamento irresponsável se traduz na bomba de efeito retardado que está agora explodindo no colo dos paulistanos e do próprio Pitta.



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