São Paulo, segunda-feira, 28 de fevereiro de 2005

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UM BUSH DIPLOMÁTICO

Um dos princípios que governam a paz mundial consiste em manter as tensões num patamar em que subsistam condições de negociações e diálogo. Nesse sentido, foi modelar o encontro, na última quinta-feira, na Eslováquia, entre George W. Bush e Vladimir Putin.
Os Estados Unidos e a Rússia não mais convivem segundo as regras da paz armada que prevaleceu durante a Guerra Fria. No período pós-soviético, as potências ocidentais têm se preocupado em não permitir que uma nova ditadura russa, desta vez não mais comunista, use como instrumento de pressão externa seu poderoso arsenal nuclear.
Putin já demonstrou ser um político de inclinações autoritárias. Impõe fortes controles à mídia e já assustou os mercados com a intervenção que promoveu no conglomerado financeiro e enérgico Yukos. No ano passado, suprimiu as eleições diretas para a escolha de governadores.
Conhecendo muito bem os pormenores desse retrato negativo, Bush evitou o confronto. A diplomacia norte-americana tem em seu histórico a idéia de não romper as pontes de comunicação com Moscou. Washington continuará agora a apoiar a candidatura russa à OMC (Organização Mundial do Comércio) e a simular a aceitação da tese russa de que as barbaridades cometidas contra civis na Tchetchênia se enquadram na estratégia de combate ao terrorismo.
Também em nome do pragmatismo, Bush, ao relatar à imprensa seu encontro com Putin, dissociou o acordo existente entre ambos sobre os perigos da proliferação nuclear do fato de a Rússia fornecer reatores ao Irã -cujo programa atômico é visto com desconfiança pelos EUA.
Com isso tudo, Putin não precisou manter, na Eslováquia, uma atitude defensiva. Bush, um personagem que agora tenta se apresentar como mais sensível às regras da diplomacia, cumpriu um papel conciliador. O que, ao menos desta vez, é de bom augúrio para o convívio da comunidade internacional.


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