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VINICIUS TORRES FREIRE
A desmoralização de Lula
SÃO PAULO - Dois grandes banqueiros que em público elogiam o presidente da República costumam dizer
em seus círculos que os ex-escravos
dão os melhores capatazes, derrisão
cínica, claro, dirigida a Lula.
Para esses senhores, Lula é tolerado
porque seu Banco Central segue o
Manual do Tio Patinhas da política
monetária, porque a política econômica é a mesma de FHC 2 e porque
não tem havido confusão maior no
país, nem mesmo com o MST.
Mas desde o ano passado alguns
muito ricos já dão de barato a sujeição do petismo-lulismo à rotina política e socioeconômica do país. No
realejo da banca, acabou a graça de
ver petistas amestrados trazerem a
moedinha na caneca. Muita gente séria se pergunta que novos disparates
o governo Lula pode parir. Pegou
muito mal a eleição de Severino Cavalcanti, após um ano de imobilismo
e tratativas intratáveis e intragáveis
do petismo no Congresso.
A série de fiascos políticos e programáticos desmoralizou a cúpula petista-lulista, com a exceção de Palocci e
de Thomaz Bastos: Fome Zero, Primeiro Emprego, Ancinav, lei de imprensa, o contrabando vulgar da MP
232, a desordem na saúde, a reforma
universitária cheia de bodes e de basismo lunático e tantos outros erros.
Para quase fechar o círculo de giz
do fracasso, cresce o rumor da "gustavofranquização" do BC -de Gustavo
Franco, o presidente do BC de FHC
que foi sendo deixado sozinho na sua
nau do real forte e que afundou
abandonado mesmo por aqueles que
o paparicavam na bonança. Até conservadores admitem que os reizinhos
do BC foram longe demais, que estouram a dívida pública e represam
inflação na forma de dólar barato a
troco de pouco resultado.
É sentimento na elite que Lula dobrou o cabo da última esperança com
o discurso em que quis se fazer de
magnânimo esperto e disse acobertar
corrupção no governo FHC; que seu
despreparo pode produzir crises sérias a troco de nada. Lula é imensamente popular, mas muita gente
graúda já acredita que até 2006 há
tempo para dar um jeito nisso.
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