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FERNANDO RODRIGUES
Empulhação política
BRASÍLIA - Os políticos mudam de partido por duas razões: obter vantagens (pessoais ou políticas) e/ou por
causa do número de legendas à disposição com portas abertas.
É impossível proibir alguém de buscar vantagens para si. Já sobre as siglas de aluguel há muito a ser feito.
O Brasil tem 27 partidos. Nada contra. Que floresçam os mil partidos. O
problema é a maioria dessas agremiações ser tratada como se fosse
grande, com tempo de TV à vontade
e dinheiro do fundo partidário.
Com o recente troca-troca desenfreado de partidos voltou a esquentar
em Brasília o debate sobre reforma
política. Infelizmente, as medidas
propostas são quase inócuas ou só
servem para degradar o que já existe.
Continua a valer uma lógica antiga e
cruel: toda vez que um deputado ou
senador tem uma idéia há risco de o
Brasil ficar pior do que é.
O mais nefando no debate em curso
é a proposta de redução da chamada
cláusula de desempenho (ou de barreira). Criada em 1996 para valer a
partir da eleição de 2006, determina
que só terão amplo acesso à TV e aos
recursos do fundo partidário as siglas
que obtiverem 5% dos votos para deputado federal em todo o Brasil.
Sob o comando do presidente da
Câmara, Severino Cavalcanti, deputados querem reduzir a exigência para 2%. Facilitarão a vida de partidos
nanicos. No limite, siglas inexpressivas como o Prona terão na TV o mesmo tempo que PSDB e PT.
"A cláusula não vai criar oportunidade para todos. Vai criar meia dúzia de privilegiados. Vamos derrubar", declarou Severino na semana
passada. O recado foi direto.
É possível contar nos dedos de uma
mão o número de brasileiros interessados em assunto tão chato como a
cláusula de barreira. Congressistas
podem fazer a estripulia sossegados,
sem pressão da sociedade. O eleitor só
perceberá o estrago quando assistir
ao desfile de personagens esdrúxulos
no próximo horário eleitoral. Daí, será tarde. Severino e o baixo clero já
terão vencido mais uma batalha.
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