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Ação nas Américas
Concessão do Brasil ao
Uruguai é uma iniciativa
sensata, mas ainda não
ataca as causas do
desgaste no Mercosul
O GESTO a favor do Uruguai, feito na visita do
presidente Luiz Inácio
Lula da Silva ao país vizinho, vai na direção correta,
embora não deva ser tomado como solução para o desgaste do
Mercosul. Ganha-se tempo, na
esperança de que as causas da
desagregação sejam atacadas.
A ameaça uruguaia de selar um
tratado de livre comércio com os
EUA é mero
sintoma daquela crise
maior. Sintoma e pretexto,
pois as chances de um
acordo com a
principal economia do planeta se estreitaram desde
que os democratas tomaram o controle do Congresso.
O Uruguai corteja os Estados
Unidos de olho em Brasil e Argentina. O governo de Tabaré
Vázquez vive às turras com o de
Néstor Kirchner por conta da
instalação de fábricas de celulose
no rio Uruguai -em solo uruguaio, na divisa com o território
argentino. Brasília, preocupada
com uma expansão mais simbólica que substancial do bloco, foi
incapaz de apaziguar os ânimos e
resolver o conflito no Mercosul.
Ainda que com cuidados paliativos, é uma boa notícia que a diplomacia brasileira tenha começado a agir. As concessões ao
Uruguai -agilização em trâmites alfandegários, pequenos financiamentos a obras de infra-estrutura, um aceno no setor automotivo- são relativamente
modestas, como modesto é o peso do país no bloco.
O que mais interessa às empresas instaladas nos quatro países
fundadores do Mercosul é que a
região opere de fato como zona
de livre comércio. Ao Brasil cabe
liderar ações institucionais que
reforcem e perenizem esse ambiente. Será necessário, pois, tocar no delicado tema das fábricas
de celulose, mais cedo que tarde.
A responsabilidade brasileira,
no entanto, vai muito além. O
despertar do país para o comércio exterior resultou na diminuição da
importância
relativa do
Mercosul para
importações e
exportações
brasileiras.
Se as negociações na Organização
Mundial do
Comércio estão em sintonia com os anseios
do pujante Brasil agrícola, falta
uma iniciativa abrangente que
possibilite a abertura de mercados às manufaturas. Resultou infrutífera a tentativa de unir os
países sul-americanos como tática de antagonismo à política de
Washington de fechar acordos
bilaterais na região.
O crescimento do comércio
nas Américas teria mais chances
de ser potencializado -com benefícios para todos, notadamente a indústria brasileira, muito
competitiva na região- num
acordo que envolvesse os EUA.
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