São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

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Ação nas Américas

Concessão do Brasil ao Uruguai é uma iniciativa sensata, mas ainda não ataca as causas do desgaste no Mercosul

O GESTO a favor do Uruguai, feito na visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país vizinho, vai na direção correta, embora não deva ser tomado como solução para o desgaste do Mercosul. Ganha-se tempo, na esperança de que as causas da desagregação sejam atacadas.
A ameaça uruguaia de selar um tratado de livre comércio com os EUA é mero sintoma daquela crise maior. Sintoma e pretexto, pois as chances de um acordo com a principal economia do planeta se estreitaram desde que os democratas tomaram o controle do Congresso.
O Uruguai corteja os Estados Unidos de olho em Brasil e Argentina. O governo de Tabaré Vázquez vive às turras com o de Néstor Kirchner por conta da instalação de fábricas de celulose no rio Uruguai -em solo uruguaio, na divisa com o território argentino. Brasília, preocupada com uma expansão mais simbólica que substancial do bloco, foi incapaz de apaziguar os ânimos e resolver o conflito no Mercosul.
Ainda que com cuidados paliativos, é uma boa notícia que a diplomacia brasileira tenha começado a agir. As concessões ao Uruguai -agilização em trâmites alfandegários, pequenos financiamentos a obras de infra-estrutura, um aceno no setor automotivo- são relativamente modestas, como modesto é o peso do país no bloco.
O que mais interessa às empresas instaladas nos quatro países fundadores do Mercosul é que a região opere de fato como zona de livre comércio. Ao Brasil cabe liderar ações institucionais que reforcem e perenizem esse ambiente. Será necessário, pois, tocar no delicado tema das fábricas de celulose, mais cedo que tarde.
A responsabilidade brasileira, no entanto, vai muito além. O despertar do país para o comércio exterior resultou na diminuição da importância relativa do Mercosul para importações e exportações brasileiras.
Se as negociações na Organização Mundial do Comércio estão em sintonia com os anseios do pujante Brasil agrícola, falta uma iniciativa abrangente que possibilite a abertura de mercados às manufaturas. Resultou infrutífera a tentativa de unir os países sul-americanos como tática de antagonismo à política de Washington de fechar acordos bilaterais na região.
O crescimento do comércio nas Américas teria mais chances de ser potencializado -com benefícios para todos, notadamente a indústria brasileira, muito competitiva na região- num acordo que envolvesse os EUA.


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