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Desprezo público e notório
SAI BASTANTE maculada a
imagem da Câmara dos Deputados, mais do que já estava, com o episódio de compra e
venda de reportagens auto-elogiosas pelo líder do PMDB na Casa, Henrique Eduardo Alves
(RN). Revelada pela Folha domingo, a transação atesta que ali
se considera normal o desvio de
dinheiro público para fins eleitorais, como o que beneficiou a
"Tribuna do Norte", da qual o
próprio Alves é presidente.
É acabrunhante, também, que
ainda se encare com naturalidade o pagamento de matéria editorial. Ao admitir candidamente
essa confusão entre informação
e propaganda, o líder do PMDB
põe a nu a precariedade dos mercados em que se edita parte das
publicações do país. Apenas a
ampliação do número de leitores
e de anunciantes será capaz de
eliminar essas formas espúrias
de financiamento de empresas
de comunicação.
O caso Alves ganhou notoriedade pelo absurdo promíscuo da
operação, mas decerto não se
trata do único deputado a fazer
mau uso da verba indenizatória
(R$ 15 mil mensais franqueados
a cada parlamentar, para ressarcir gastos com consultoria, escritórios e a malconcebida "divulgação do mandato").
Sugestiva da tolerância que,
não é de hoje, impera na Câmara
dos Deputados mostrou-se a
reação de seu presidente recém-eleito, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Evitando pronunciar-se sobre o óbvio, anunciou que solicitaria análise para averiguar se as
formalidades haviam sido cumpridas: "Caso ele [Alves] se sinta
à vontade de fazer, minha dúvida
é: existe algum impedimento pelas regras ou não?"
Pelas normas comezinhas da
ética pública, é apenas o que há:
impedimento. Atos e palavras do
líder do PMDB, o maior partido
da Câmara, e do novo presidente
petista só fazem atestar a perenidade dos piores costumes.
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