São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

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Desprezo público e notório

SAI BASTANTE maculada a imagem da Câmara dos Deputados, mais do que já estava, com o episódio de compra e venda de reportagens auto-elogiosas pelo líder do PMDB na Casa, Henrique Eduardo Alves (RN). Revelada pela Folha domingo, a transação atesta que ali se considera normal o desvio de dinheiro público para fins eleitorais, como o que beneficiou a "Tribuna do Norte", da qual o próprio Alves é presidente.
É acabrunhante, também, que ainda se encare com naturalidade o pagamento de matéria editorial. Ao admitir candidamente essa confusão entre informação e propaganda, o líder do PMDB põe a nu a precariedade dos mercados em que se edita parte das publicações do país. Apenas a ampliação do número de leitores e de anunciantes será capaz de eliminar essas formas espúrias de financiamento de empresas de comunicação.
O caso Alves ganhou notoriedade pelo absurdo promíscuo da operação, mas decerto não se trata do único deputado a fazer mau uso da verba indenizatória (R$ 15 mil mensais franqueados a cada parlamentar, para ressarcir gastos com consultoria, escritórios e a malconcebida "divulgação do mandato").
Sugestiva da tolerância que, não é de hoje, impera na Câmara dos Deputados mostrou-se a reação de seu presidente recém-eleito, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Evitando pronunciar-se sobre o óbvio, anunciou que solicitaria análise para averiguar se as formalidades haviam sido cumpridas: "Caso ele [Alves] se sinta à vontade de fazer, minha dúvida é: existe algum impedimento pelas regras ou não?"
Pelas normas comezinhas da ética pública, é apenas o que há: impedimento. Atos e palavras do líder do PMDB, o maior partido da Câmara, e do novo presidente petista só fazem atestar a perenidade dos piores costumes.


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