São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

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ANTONIO DELFIM NETTO

Esquerda e direita

NOS ÚLTIMOS 25 anos, a economia francesa tem encontrado sérias dificuldades. O seu crescimento é lento quando comparado com o da OCDE. A taxa de desemprego, que atingiu seu mais alto valor (12%) em 1996/97, tem-se reduzido muito lentamente. Ainda se encontra em torno de 9%. A competitividade externa da França tem diminuído em relação à da Alemanha devido à redução da sua relação câmbio/ salário. Esta deriva dos menores aumentos nominais de salários na Alemanha, apesar das taxas de inflação nos últimos três anos terem sido parecidas (Alemanha, 1,8%, e França, 2%). Houve um certo entusiasmo com a economia quando o crescimento no segundo trimestre de 2006 revelou-se robusto. Infelizmente, no terceiro trimestre, ele foi nulo e, no quarto trimestre, não recobrou o entusiasmo. Estima-se que em 2006 o crescimento terá sido de 2,1% -contra 3,2% da OCDE.
Diante desses fatos, seria de esperar que as próximas eleições (em menos de três meses) trouxessem candidatos com programas bem focados sobre o grande problema.
Cada vez mais, entretanto, a "esquerda" (representada por Ségolène Royal) e a "direita" (representada por Nicolas Sarkozy) apresentam-se como imagens no espelho, dada à semelhança entre os seus programas. No fundo, os dois partem do mesmo "diagnóstico" da situação. A esquerda dá um pouco mais de ênfase à "igualdade como um direito", e a direita coloca mais ênfase na "igualdade como produto do mérito". Aquela falando mais de salário; esta, mais de produtividade.
Não deveria haver nenhuma surpresa sobre tais fatos. No último quartel do século passado, enquanto a esquerda "jurássica" era consumida como sinal de trânsito, aquela que realmente pensa enfrentou com dificuldade o sucesso do avanço do pensamento liberal sobre os seus velhos problemas: a inclusão, a redução das desigualdades e a busca de uma sociedade "justa", ou seja, a procura de uma justiça distributiva.
O resultado desse movimento foi uma convergência importante entre os dois pensamentos, o que explica a semelhança entre os dois programas sobre o problema da França e a pequena diferença concreta (não-retórica) das propostas para resolvê-lo.
Talvez o mais importante resultado daquele movimento tenha sido a desqualificação, nos países civilizados, do "vanguardismo" de pseudo-intelectuais e suas perigosas fantasias produzidas pela antropofágica "democracia direta", alimentada pelo controle do Congresso e da imprensa e energizada pela ação de ONGs financiadas por eles mesmos...


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ANTONIO DELFIM NETTO
escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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