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KENNETH MAXWELL
O presidente da Câmara
É RECONFORTANTE cruzar o
Atlântico em fevereiro, da gélida Nova Inglaterra, para
passar um fim de semana no condado de Devon, na velha Inglaterra. Em Devon, a primavera já
chegou.
Também é causa de alívio descobrir que os jornais locais estão muito menos preocupados com as eleições americanas do que com o pentanacional de rúgbi e com dois "serial killers", trazidos à Justiça por
meio do uso de DNA como prova.
Para não mencionar os casos de
abuso contra crianças na ilha de
Jersey, local bem conhecido dos
políticos brasileiros que tentam
ocultar seus ativos. São essas histórias que ocupam as manchetes.
Temos também o caso do "senhor presidente". É o escândalo
que gira em torno de Michael Martin, presidente da Câmara dos Comuns britânica. No final de semana, o porta-voz de Martin pediu demissão, alegando que "alguém" no
gabinete da presidência da Câmara
o havia iludido e levado a fazer falsas declarações à imprensa. Mary
Martin (a mulher do presidente da
Câmara, não a atriz) aparentemente gastou 4.000 libras em táxis, pagos pela conta de despesas da presidência da Câmara em expedições
de compras. O porta-voz informara
aos jornalistas que esses passeios
eram assunto oficial, e que a senhora Martin havia sido acompanhada
às compras por um "funcionário
administrativo". Na verdade, ela
foi acompanhada por sua empregada doméstica. Surgiram novas revelações: uso de milhagem acumulada em função de viagens oficiais
para bancar viagens de família; alegações de abusos das verbas de habitação e por aí vai. E quem será o
responsável por investigar essas
alegações? Ninguém menos que o
próprio senhor Martin.
O presidente da Câmara dos Comuns é um escocês amarfanhado
da classe trabalhadora, que ostenta
um forte sotaque e deixou a escola
aos 15 anos de idade para se tornar
metalúrgico, líder sindical e uma
das figuras centrais do Partido Trabalhista. A imprensa, de esquerda e
de direita, pediu sua renúncia, mas
os políticos trabalhistas se uniram
em defesa de Martin, alegando que
ele é vítima de preconceitos de
classe e região. "As pessoas que estudaram em escolas particulares e
nas universidades de Cambridge e
Oxford não gostam que um homem
da classe trabalhadora nascido em
Glasgow chegue ao mais alto posto
do país", foi a explicação proposta
por lorde Foulkes de Cumnock.
Para evitar que essa defesa do
presidente da Câmara dos Comuns
por um membro da Câmara dos
Lordes pareça incongruente, é necessário apontar que lorde Foulkes
é outro político escocês de classe
operária que ascendeu das fileiras
do Partido Trabalhista.
O assunto parece familiar? Alô,
Brasília, você não está sozinha!
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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