São Paulo, sexta, 28 de março de 1997.

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Magro, mas eficaz

CLÓVIS ROSSI
Frankfurt - Impressões visuais são sempre traiçoeiras. Mas, após quase duas semanas entrando e saindo de repartições públicas alemãs (estaduais, federais e municipais), é inescapável a sensação de que são menos pletóricas do que suas congêneres brasileiras.
Não há aquele batalhão de secretárias, contínuos, aspones etc., que parecem uma constante no Brasil. Talvez por isso sejam bem mais raras as queixas contra o tamanho da burocracia.
O alvo aqui são os impostos e não o suposto (ou real) desperdício da receita com uma máquina pública inchada e ineficiente.
Mais objetivamente: o custo de manutenção dos 85 mil empregados das 27 instituições que cuidam do núcleo central da Seguridade Social alemã (seguro-saúde, aposentadorias etc.) não vai além de 1,8% do total de contribuições recolhidas paritariamente de empregados e patrões.
Pelo menos é o que informa Günter Albrecht, porta-voz da VDR, a organização central dessas 27 instituições (uma sigla que nem me animo a reproduzir porque só o ``r'' dela tem exatamente 25 letras).
Quando alguém reclamou dos custos administrativos, a VDR respondeu com um levantamento que provava que o sistema privado de seguro-saúde gastava com a sua própria burocracia 4,5% das contribuições recebidas (2,5 vezes mais do que o sistema público, portanto).
O problema nem é tanto o custo, alto ou baixo, mas o atendimento.
No Brasil, é um drama conhecido conseguir vaga em um hospital. Na Alemanha, caí na besteira de perguntar a Peter Rath, do Ministério do Trabalho, Saúde e Assuntos Sociais da cidade-Estado de Hamburgo, se também havia filas para o atendimento médico.
Não entendo nada de alemão, mas o sorrisinho irônico de Rath enquanto respondia ao intérprete me fez desconfiar que lhe causaria menos espanto se eu perguntasse se há vida em Vênus.

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