São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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MARTA EM QUEDA

Os resultados da pesquisa Datafolha publicada hoje por esta Folha não deixam dúvidas sobre o forte desgaste sofrido pela prefeita Marta Suplicy nos últimos meses. Em dezembro, o desempenho da prefeita era visto como ótimo ou bom por 32% dos entrevistados, percentual que agora cai para 22%. No levantamento das intenções de voto, sua rejeição, de 44%, é igual à do ex-prefeito Paulo Maluf.
Nos cenários nos quais é confrontada com diferentes possíveis candidatos, Marta mais perde do que vence seus concorrentes. Maluf e José Serra aparecem à frente da petista, e na simulação em que vai melhor, ela supera em seis pontos percentuais a rival Luiza Erundina.
É ainda muito cedo para apreciações mais definitivas acerca do comportamento do eleitorado. Mais de seis meses ainda nos separam do dia em que o paulistano comparecerá às urnas. Um dos pré-candidatos, o secretário da Segurança do Estado, Saulo de Castro Abreu Filho, é pouco conhecido da população. De acordo com a pesquisa, apenas 25% são capazes de identificá-lo.
Nada disso, porém, invalida as interessantes indicações que podem ser extraídas do levantamento. O acentuado enfraquecimento da prefeita evidencia que as análises até há pouco correntes, sobre seu favoritismo no pleito de outubro, devem ser revistas. Não apenas a avaliação da prefeitura declina, mas igualmente os indicadores relativos à imagem pessoal da alcaidessa.
A pergunta a ser feita é o que poderia ter ocasionado, nos últimos meses, esse declínio de prestígio. No âmbito local, a pesquisa ocorre após um verão bastante problemático para a prefeitura: as enchentes se sucederam, conturbando o cotidiano da cidade. Enquanto as águas inundavam residências em São Paulo e provocavam engarrafamentos, Marta encontrava-se na Europa.
De volta, a prefeita viu-se duramente questionada. Chegou a bater boca com uma vítima das cheias na TV e deixou no ar uma imagem de arrogância e ineficiência. Foi também nesse mesmo período que tiveram início suas discutíveis obras viárias, que trazem mais transtornos ao já complicado trânsito da cidade.
Embora questões locais tendam a ter prevalência sobre as nacionais em pleitos de municípios, no caso paulistano essa assertiva, ao menos neste ano, deve ser relativizada. É forte a identificação da prefeita com o Partido dos Trabalhadores e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva -todos, em última instância, frutos da política paulista. Sendo assim, não se pode descartar que as reverberações da crise política instalada no governo federal, bem como suas dificuldades na área econômica, influenciem o julgamento do cidadão paulistano.
Fica dos números a perspectiva de uma eleição mais acirrada do que se imaginava.


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