São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

A triste realidade do ensino brasileiro

Em 2002, o Brasil possuía 1.637 escolas de nível superior, sendo 195 públicas e 1.442 privadas. As escolas particulares ofereceram cerca de 1,5 milhão de vagas, enquanto as públicas ofertaram 295 mil. Entre 1995 e 2002, o crescimento maior foi no setor privado. As matrículas aumentaram 86% no setor privado e 28% no público.
O que dizer desses números? O Brasil está bem atendido? Infelizmente não. Há sérias lacunas quantitativas e qualitativas.
No primeiro aspecto, o Brasil está muito longe dos países desenvolvidos. Quando se consideram os jovens de 18 a 24 anos, o Brasil tem por volta de 8% dessa população matriculada em escolas de nível universitário. A Itália tem 42%; a Alemanha, 45%; a França, 60%; a Inglaterra, 61%; os Estados Unidos, 80% e o Canadá 82%. A diferença é brutal. Temos um longo caminho pela frente.
O quadro fica mais calamitoso, porém, quando se introduz a dimensão qualitativa. A grande maioria das nossas faculdades e universidades oferece um ensino precário. As avaliações realizadas pelo próprio Ministério da Educação mostram uma enormidade de escolas com professores não-qualificados, bibliotecas desatualizadas, laboratórios desequipados etc. -e que vão se multiplicando, em prejuízo dos alunos, das famílias e da nação.
Em artigo recente, o professor Miguel Reale diz: "A maior crítica que faço ao Ministério da Educação e ao Conselho Nacional de Educação é a criação inexplicável de precários estabelecimentos de ensino superior e de universidades "fajutas"... Se o Ministério da Educação e o Conselho Nacional de Educação houvessem sabido estancar esse maléfico fluxo educacional, teriam prestado o maior benefício à coletividade... A sociedade contemporânea exige universidades tecnicamente constituídas, com o mais variado e efetivo preparo profissional como condição de emprego".
Como há ociosidade em várias escolas particulares, cogita-se, agora, o uso dessas vagas para estudantes que não conseguiram entrar nas escolas públicas. Voltando ao professor Reale, ele diz o seguinte: "Essa solução é a mais desastrada" ("Calamidade do ensino no país", "O Estado de S. Paulo", 14/2).
Concordo com ele. O que o Brasil precisa é de escolas de boa qualidade, tanto no setor público como no privado. Se há falta de verbas para boas escolas públicas, está na hora de os estudantes de renda alta pagarem seus estudos para ajudar a gerar bolsas de estudo para os menos privilegiados.
Isso é assim nos países mais ricos do mundo. Por que não implantar tal sistema entre nós, em lugar de continuarmos criando cursos de má qualidade para iludir alunos, professores e a própria sociedade? Penso ser essa a reforma universitária mais urgente e mais importante para ajudar a gerar bons conhecimentos em uma sociedade globalizada e a facilitar a colocação dos jovens no mercado de trabalho.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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