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PALOCCI SAI, A CRISE FICA
A 280 dias do fim do mandato,
ruiu o pilar remanescente da
plataforma sobre a qual foi montado
o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Antonio Palocci Filho, o emblema da conversão tardia mas incondicional do petismo à ortodoxia de
mercado, não resistiu aos indícios de
conduta indevida e deixou o Ministério da Fazenda. Mas a saída de um
ministro cuja carga se tornou insustentável não livra o governo da crise.
O escândalo do uso criminoso de
braços do Estado para intimidar
Francenildo Costa -o caseiro que
refutou Palocci- ganhou ontem seu
capítulo mais estarrecedor. O presidente da Caixa Econômica Federal,
Jorge Mattoso, disse à Polícia Federal
que solicitou os extratos com dados
bancários de Francenildo e, de posse
dos papéis, os entregou a Palocci: o
ministro da Fazenda e o dirigente da
Caixa, envolvidos pessoalmente na
violação do sigilo de um cidadão!
Quer dizer que não passava de empulhação toda a pantomima armada
para "apurar" o crime -com menções a laptops perdidos e recuperados e prazos de inquérito de 15 dias.
Foi, no máximo, uma tentativa, afinal frustrada, de ganhar tempo e encontrar no baixo funcionalismo um
voluntário ao sacrifício.
O governo Lula e o petismo governista perderam definitivamente a noção de limites institucionais. Que outra concepção de Estado senão a totalitária, em que se esfacelam as fronteiras entre coisa pública e partido,
pode gestar tamanha afronta a uma
Constituição democrática?
Em momentos como esse, em que
um Poder exorbita de suas prerrogativas, as demais esferas da República
precisam agir no interesse do reequilíbrio institucional. O Congresso, o
Supremo Tribunal Federal, o Ministério Público e a burocracia do Executivo devem reagir e colocar um
freio à sanha autoritária que atropela
as garantias básicas dos cidadãos em
nome da manutenção do poder.
Palocci e Mattoso saem, mas ambos e o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva devem muitas explicações sobre o ocorrido nesses últimos dias de
março. Lula sabia do ato criminoso
urdido no alto escalão de seu governo? O Brasil exige uma resposta.
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